O Mansu Nangetu recebeu o prof. João Simões para a entrevista que fez parte do processo de escolha de bolsista para atuar no projeto de extensão universitária “Diálogos em Cabana de Caboco – Intercâmbio acadêmico e cultural com o Projeto Azuelar do Instituto Nangetu em Belém-PA”. João Simões apresentou Mametu Nangetu aos estudantes e depois mostrou o espaço do terreiro, disse que aquele é o lugar de desenvolvimento de atividades e disse também que a entrevista foi propositalmente deslocada da UFPA para o terreiro, pois era preciso também perceber se haveria alguma reação negativa por parte dos interessados quando adentrassem ao espaço do do culto ao sagrado para os afro-religiosos.
Em seguida Mametu Nangetu assumiu a condução da conversa e depois de dar as boas vindas à todos explanou sobre os processos de racismo e discriminação que provocam a repressão social e até policial às práticas religiosos afro-amazônicas, e concluiu com a afirmação de que a discriminação acontece por causa do desconhecimento da população sobre as práticas dos povos tradicionais de terreiros.
Em seguida o Prof. João Simões lembrou aos estudantes presentes que o discurso de Mãe Nangetu estava em plena sintonia com o pensamento de Gadamer, Heidegger, Paul Ricouer, e Martin Bobber, entre outros, pois eles tratam da dialogia e da questão da hermenêutica não apenas enquanto método, mas enquanto ser, isto é: enquanto uma ontologia. Afinal você só se pode encontrar, aceitar, respeitar e compreender a alteridade - o `outro` -, se você estiver disposto a conhece-lo.
Portanto João compreende que quando Mametu agradece a presença dos estudantes e da "universidade federal" através deles e de nós, professores, que ela explica à sua maneira as mesmas conclusões que grandes filósofos também chegaram, isto é: que é imprescindível o conhecer diferente para nos tornarmos solidários, humanos, éticos, e democráticos.
E podemos chegar a conclusão de que ela acredita, portanto, que o fim do racismo e da intolerância religiosa
pode acontecer apenas à partir do encontro com o outro, do diálogo com o
outro, do reconhecimento do outro, e não da exclusão do outro. Desta
maneira ela não exclui ninguém, aceita a entrada das pessoas no seu
terreiro, independentemente se são ou não intolerantes com as religiões
afro. O prof. João Simões acrescentou que acredita, em sua particularidade, que é preciso
salvar nossa humanidade salvando a humanidade do outro, mesmo quando e
se esse outro for, por alguns momentos, o nosso algoz. E isto só pode acontecer na Verdade e
na transparência.
A entrevista foi coletiva, pois para a equipe do projeto o importante é, ao contrário de estar
repetindo uma entrevista pessoal e fechada, fazer uma entrevista
coletiva. Foi feita uma roda onde todos os candidatos à bolsa podiam se
expressar, e eram estimulados pelos professores a falar. Afinal com esta
metodologia, tenta-se superar, pelo menos em parte, a busca de todo e
qualquer ser humano, de "maquiar-se", na tentativa de agradar o "outro"
para encontrar reconhecimento.
É esse sentimento de escamoteamento que faz com que ao nos sentirmos diante de uma
"banca examinadora", imediatamente nos venha o desejo à dissimulação, à
esconder o que acreditamos para parecer dentro do padrão esperado. Por isso a
entrevista em grupo, como recebe inúmeros estímulos de várias pessoas,
que vão falando e nos provocando, evoca em nós mais sinceridade, ou
"atos falhos". Pode-se, assim, ter uma visão melhor dos candidatos e
tentar entender qual aquele que apresenta o melhor perfil, para assumir o
trabalho.
Muito embora, o ideal seria, a sociedade brasileira, deixar
de gastar com questões pouco importantes, para dar ênfase à educação.
Assim quem sabe teremos no futuro bolsas para todos os alunos que
desejarem desenvolver alguma pesquisa com grupos sociais vulneráveis..
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