sábado, 30 de abril de 2016

Alguidás de papel e de folhas, para oferendas.

Estudantes de escolas públicas também ouviram a experiência da comunidade.
Na quinta-feira, dia 28 de abril, como parte das ações educativas do Projeto Nós de Aruanda, artistas de terreiro, a comunidade do Mansu Nangetu, realizou uma de Oficina Alguidás e outras vasilhas biodegradáveis, com troca de saberes de manejo ambiental tradicional de matriz Bantu.
A condução dos trabalhos foi de Táta Kinamboji, com o auxílio de Weverton Ruan e Samiliy Maria, e começou com uma explicação sobre as práticas tradicionais do Mansu Nangetu. KJinanboji falou que para os Bantu, cada um de nós é responsável por si, pela comunidade e pelo mundo em que vivemos, e que a responsabilidade pelos seus atos reflete na relação saudável dos humanos com o meio ambiente. Contou das ações da comunidade no manejo da mata da CEASA, dizendo que a comunidade te  a preocupação de periodicamente fazer a limpeza dos locais de culto, e que sistematicamente recolhe resíduos sólidos nessa área, como forma de promover o ambiente saudável.
Ele ressaltou que a urbanização de Belém despreza as áreas de mata e de beiras de igarapés, e esse entendimento equivocado faz com que pneus, plásticos e outros resíduos sejam despejados pela população nessas  áreas. Táta ainda ressaltou que a preocupação e o cuidado é também com a saúde e o controle de doenças endêmicas, e que um  ambiente saudável contribui pra um povo saudável.
O Mansu Nangetu também se preocupa com a extração indiscriminada em minas de argila, e por isso, também começou a experimentar a construção de vasilhas biodegradáveis, promovendo a construção de recipientes com reciclagem de papelão e jornais, desde barquinhas de oferendas nas águas, até alguidás de papel e de folhas, que são usados em oferendas, passando, então, para a construção dos objetos.








sexta-feira, 29 de abril de 2016

Comissão de Direitos Humanos do Senado realiza reunião do grupo "Interreligiosos em defesa da democracia".

Religiosos de Matrizes Africanas dizem não ao Golpe

Todos pela Democracia
publicado 29/04/2016 origialmente em CONVERSA AFIADA.
Comissão de Direitos Humanos do Senado realiza reunião do grupo "Interreligiosos em defesa da democracia" .

No ato convocado pelo Coletivo de Entidades Negras, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Coordenação Nacional de Igrejas Cristãs e o Comitê Pró Democracia do Senado Federal a sessão debateu a necessidade de se lutar pela democracia e estabelecer um contraponto contra o golpe e a agenda reacionária da bancada BBB - Boi, Bala e Bíblia.  


A atividade denominada #NãoEmNomeDeDeus fez clara alusão à maneira negativa de utilização do sagrado para objetos escusos a exemplo do Golpe em Marcha no Brasil e que a imprensa golpista insiste em chamar de impeachment mas não apresentar o crime.

Sabendo dos riscos à garantia de direitos que está por vir e da necessidade da luta e resistência, logo após o encontro os religiosos de matrizes africanas ocuparam as galerias do senado e entoaram cânticos sagrados para Ogum - Orixá das Guerras e das Lutas para dizer que não vão aceitar retrocessos e que as elites representantes da Casa Grande não mais os colocarão nas senzalas.

Também ficou decidido que no dia 05 de maio os religiosos de matrizes africanas de todo o Brasil irão fazer atividades contra o Golpe e em defesa da democracia nos Terreiros de Candomblé do Brasil inteiro.
Veja fotos:

domingo, 24 de abril de 2016

Oficina: Alguidás e outras vasilhas biodegradáveis

No salão de exposições, Mametu Nangetu expõe ALGUIDÁS, objetos construídos com reciclagem para uso ritualísticos. Ela ressalta a preocupação com a natureza e o meio ambiente nas tradições de matriz africana, e constrói sua poética com discurso de manejo ambiental tradicional, e como parte da programação da exposição Nós de Aruanda, artistas de terreiro, a comunidade do Mansu Nangetu oferece uma oficina de troca de saberes com  a tecnologia de construção de alguidás e outras vasilhas de oferendas com material biodegradável.

Foto - ©LucivaldoSena / Projeto Gяiot Amazônida

A preservação do sagrado afro-brasileiro está intimamente ligado à preservação do patrimônio ambiental, e a comunidade do Mansu Nangetu tenta fazer a sua parte em pequenas ações, como a confecção de vasilhas biodegradáveis para utilização em oferendas, a limpeza de áreas de matas urbanas e a criação de ambiente de cultivo de ervas aromáticas e medicinais em hortas de quintais.
É essa experiência que a comunidade adquiriu através das ações do Projeto A magia de Jinsaba – sem folhas não tem ritual que será compartilhada na oficina, com outras comunidades de terreiros tradicionais de matriz africana e com quem mais se interessar em trocar experiências poéticas e conhecimentos sobre o patrimônio ambiental afro-amazônico.


A exposição é uma realização do Grupo de Estudos Afro-Amazônico (NEAB-UFPA) e do Grupo de Pesquisa Roda de Axé CNPq, e fica em cartaz até 29 de abril na Galeria Theodor Braga, no sub-solo do CENTUR, Av. Gentil Bittencourt 650, Nazaré, Belém - Pará, com visitação de segunda a sexta das 9h as 19h

Oficina: Alguidás e outras vasilhas biodegradáveis
Instrutores – comunidade do Mansu Nangetu,
Quinta-feira, dia 28 de abril, a partir das 15h.
IV Exposição NÓS DE ARUANDA – ARTISTAS DE TERREIRO.
Galeria Theodoro Braga, a galeria fica no subsolo do CENTUR - Av. Gentil Bittencourt, nº 650, Nazaré - Belém – PA.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

3° Encontro Cria Preta será no Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves.

23 de abril, sábado, a partir das 8h, tem o 3° Encontro Cria Preta.
É um encontro de mães e com seus filhos pra brincar e interagir com o meio ambiente valorizando as culturas e a memória afro-amazônica e as brincadeiras tradicionais de infância.
A ação é uma iniciativa de um grupo de mulheres negras e acontece neste sábado, 23, a partir das 8h no Jardim Botânico Bosque Rodrigues Alves. - Av. Alm. Barroso, 2305 - Marco, Belém - PA.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

22 de abril - Cineclube exibe filme de educação ambiental de matriz africana.


Serviço: 
Cineclube Nangetu
Filme: O SAGRADO ÉECOLÓGICO NO CANDOMBLÉ ANGOLA. Educativo. Brasil, 2012.
Sinopse: Ação educativa e prática de saberes culturais na construção da educação ambiental na comunidade do Terreiro Mansu Nangetu, casa tradicional de Candomblé de matriz Bantu em Belém do Pará.
Quando: sexta-feira, 22 de abril - 18h.
Onde: Mansu Nangetu - Tv. Pirajá, 1194 - Marco, Belém/PA.
Colaboração: alimentos não perecíveis (café, farinha, arroz, feijão e outros)

O curta "O Sagrado e o Ecológico no Candomblé de Angola" é um filme educativo fruto de uma produção coletiva realizada em 2012 pela comunidade do Mansu Nangetu (Projeto Azuelar) em parceria com pesquisadores da Especialização em Saberes Africanos e Afro-brasileiros na Amazônia, ofertado pelo Grupo de Estudos Afro-amazônico (NEAB) da Universidade Federal do Pará, e mostra práticas ecológicas de terreiro como exemplo de educação ambiental para crianças e jovens.
A experiência cineclubista do Mansu trabalha com o tripé de difusão, formação e produção audiovisual com caráter étnico e racial e de valorização das tradições de matriz africana na Amazônia, e a comunidade produz vários documentários com o que chama de ‘tecnologia do possível’,. A proposta deste filme veio dos pesquisadores do GEAM/ UFPA que queriam a produção de material didático para ser usado em sala de aula, o filme não teve um roteiro previamente elaborado, ele é o resultado do acompanhamento das ações cotidianas da comunidade .
Mametu Nangetu ressalta que a preservação do sagrado afro-brasileiro está intimamente ligado à preservação do patrimônio ambiental, ela critica o modelo de urbanização de cidades que extinguem as áreas verdes e transformam igarapés em esgotos à céu aberto, e diz que a comunidade tenta fazer a sua parte em pequenas ações, como a confecção de vasilhas biodegradáveis para utilização em oferendas, ação que é mostrada no filme.
O filme faz parte do Box da Diversidade, um projeto de caráter cultural e educativo que reúne uma coletânea de filmes brasileiros para ser distribuída gratuitamente para escolas públicas, cineclubes e organizações sociais. O projeto é desenvolvido pelo Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros/ CNC, e começou a ser distribuído em 2015.  O Box possui os seguintes eixos temáticos: sexualidade e gênero; comunidades tradicionais e étnico racial; meio ambiente e biodiversidade; envelhecimento e memória; superação e acessibilidade; trânsito e pensamento nômade; infância e juventude; dessemelhanças e experimentações; diversidade regional; transversalidade geopolítica.




O SAGRADO ÉECOLÓGICO NO CANDOMBLÉ ANGOLA: Ação educativa e prática de saberes culturais na construção da educação ambiental em comunidade de terreiro.  Direção: Filme Coletivo. Pesquisa - Equipe do GEAAM/ UFPA: Alessandro Ricardo Campos, Anderson Johnny dos S. Nunes, Arthur Leandro, Kátia Simone Alves Araújo, Renato Trindade. Pesquisa - Equipe do Projeto Azuelar/ Instituto Nangetu: Mametu Nangetu, Mametu Deumbanda, Táta Kinamboji, Táta Kamelemba, Muzenza Vanjulê. Musicas: Táta Mutá "A casa dos olhos do Tempo" Táta Guiamazi/ Casa de Candomblé. Angola Redandá redanda.com.br/ . Edição: Arthur Leandro/ Táta Kinamboji, Projeto Azuelar/ Instituto Nangetu. Realização: Projeto Azuelar/ Instituto Nangetu;  CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SABERES AFRICANOS E AFRO BRASILEIROS NA AMAZÔNIA – IMPLANTAÇÃO DA LEI 10.639/03/ Grupo de Estudos Afro-amazônicos, Faculdade de Ciências Sociais/ IFCS/ UFPA, Faculdade de Artes Visuais/ ICA/ UFPA.

Apoio:
REATA - Rede Amazônica de Tradições de Matriz Africana.
rede [aparelho]-:
FAV - ICA * FCS - IFCH * PROEX/ UFPA
Projetos de extensão:
Produção do Programa "Nós de Aruanda" para a WebTV Azuelar
Eu vou navegar na Casa da Mãe das Águas (Ilê Iyabá Omi)
Ngomba d'Aruanda: apoio às ações de mídia cultural do Projeto Azuelar/ Ponto de Mídia Livre do Instituto Nangetu



domingo, 10 de abril de 2016

Nkosi Bike - Performance de Carlos Vera Cruz.




Performance de Carlos Vera Cruz para o Projeto Nós de Aruanda, Galeria Theodoro Braga, abril de 2016.




Luna kubanga kuta kueto Nkosi (Nkosi, aquele que briga por nós.)

Nkosi é um nkisi da nação de candomblé Angola. Divindade Bantu de origem Kongo, que no Brasil é comparado ao orixá Ogum dos Nagô Yorubá. Talvez por ser o senhor da guerra e do ferro; aquele que briga por nós, seguidores desta nação de candomblé. É o leão sagrado, o guerreiro da justiça, o comedor de alma dos ímpios e injustos.
Já que a Antropofagia tem suas bases no ritual antropofágico dos povos Tupinambás do Brasil colônia, o qual tinha o tema da vingança como principal força motriz. Foi nesta perspectiva, a da vingança, que propus a performance de intervenção urbana NKOSI’S BIKE, realizada na cidade de Belém do Pará. Uma cidade construída a partir da exploração de mão de obra escrava de origem Bantu . As mãos Bantus, como tecnologia, construíram a Amazônia colonial. E Nkosi, por ser o senhor do ferro, também é o nkisi da tecnologia.
NKOS’S BIKE é uma performance negra de intervenção urbana, que a partir da ideia Antropofágica de Oswald de Andrade e seus desdobramentos, propôs relações entre as populações de dois bairros de periferia de Belém (Cremação e Guamá), com a cultura Bantu presente na Amazônia. Foi a minha vingança Bantu; como a vingança dos Tupinambá, performada no ritual antropofágico. O Senhor da Guerra, montado em seu cavalo de aço, devorando qual leão da savana os inimigos, e se fortalecendo no cotidiano periférico da selva-urbe equatoriana.
O nosso guerreiro maior, comendo as referências assimiladas, e saindo em batalha por visibilidade e reconhecimento de uma Amazônia Negra, obscurecida pelo mito da predominância indígena na região. Buscando, na devoração do outro pelas abordagens, encontrar a si próprio, na esperança da aceitação identitária.

Carlos Vera Cruz
Artista, Performer e membro do Mansu Nangetu.

O Nkisi é que nos socorre. Ação poética de Weverton de Nkosi.





Ação poética de resistência negra de Weverton Ruan. Projeto Nós de Aruanda, Belém: Galeria Theodoro Braga, abril de 2016.


O Nkisi é que nos socorre! Ocupando territórios de saúde, memória, poética e resistência.
Guamá, 05 de abril de 2016.
Nos encaminhamos para o pronto socorro do Guamá as 16:30, com defumações, banhos, folhas, vaso e esteira.
Descemos paramentados em frente ao pronto socorro, brevemente observamos onde colocaremos o banho, ficamos bem à frente da unidade, debaixo de sua placa desgastada e caída, muitos olhares de vários os lados, uma encruzilhada movimentada na frente do pronto socorro, não demora muito saem dois guardas municipais de dentro da unidade, perguntam o que acontecia. Não me prendo muito no que falam e continuo descarregando o material do carro, sei que ligam para alguém, esse pra quem ligam já fala com a Isabela, ela em auto e bom som diz que é uma intervenção política e afroreligiosa.
Preparo o banho, ponho no oberó e jogo na placa debotada do pronto socorro, saio jogando banho pela rampa, as pessoas se afastam, uma mãe grita para o menino sair dali, as pessoas vão se afastando na medida que vou jogando o banho, jogo na entrada, ali já tem uma ambulância e socorristas que entraram com a maca pra dentro do prédio, jogo o banho na entrada, na ambulância, eram visíveis muitas pessoas debilitadas ali, negras, senhoras, senhores, crianças. Jogo o banho pela parede nas placas da prefeitura.
Volto para a frente, o incensador já está aceso e saio defumando, as pessoas já estão afastadas da frente da unidade, sigo incensando.
Pergunto para um casal se querem se incensar, a mulher diz rindo que ele estava precisando, ele responde dizendo que está pegando neles, parecem aceitar de certa forma.
Pego o oberó novamente e pergunto quem quer lavar as mãos, pergunto aos que esperavam na fila, uma mulher resmunga sentada próximo a porta, outros recusam, uma outra mulher pelo sangue de jesus, não aceita. Levo para o outro lado da rua, o moto taxistas recusam, um para faz uma graça e pede pra lavar, enxagua bem as mãos, pergunta se é pra dinheiro, digo que é para saúde e ele bate no meu ombro, saio e ele ao sair me saúda novamente. Ofereço aos guardas, a uns que passam no carro.
Pego as palhas, vou em direção a grade, as pessoas que sentavam em baixo vão se afastando subo na mureta e tranço elas na grade.
Volto junto as folhas coloco no pote e o levo para a entrada da unidade, ficou ótimo, nos organizamos para sair, algumas despedidas, conversas com um jovem evangélico e depois saímos.

Weverton Ruan Rodrigues, de Nkosi.
Artista, membro do Mansu Nangetu.
#NósDeAruanda2016
 

Jardim de tradições, caminhos de resistência... Ação poética de Táta Kinamboji.





Ação poética de resistência negra de Táta Kinamboji. Projeto Nós de Aruanda, Belém: Galeria Theodoro Braga, abril de 2016


 

Jardim de tradições, caminhos de resistência.


Categoria - Poéticas visuais de resistência negra.

Artista propositor: Táta Kinamboji/ Arthur Leandro (Mansu Nangetu).
Realização comunitária: Mametu Nangetu, Tata Kafulumizô, Carlos Vera Cruz, Lucivaldo Sena, Tainah Joge, Isabela do Lago, Renata Beckmann, Luciane Bessa, Weverton Ruan Rodrigues, Sibely Nunes, Samantha Silva, Glauce Santos, Silvia Rodrigues, Rosângela Santos, Anna Lins, Diogo Monteiro, Sr. Fernando da Komby e trabalhadores do porto de Icoaraci. Data: 20 de fevereiro de 2016, ao meio dia. Local: trapiche e orla do porto de Icoaraci. Fotos/ vídeos: Lucivaldo Sena, Renata Beckmann, Isabela do Lago e equipe do Projeto Azuelar. 

Contexto: Trapiche e orla do porto de Icoaraci - Local onde houve recente ataque contra ritual do sagrado de matriz africana.
Motivação - fim do ano passado, fomos para a orla de Icoaraci levar oferendas referentes aos ritos de Tata Kafulumizô (Angelo Imbiriba), e quando alguns barqueiros perceberam que se tratava do sagrado afro-brasileiro, começaram a gritar "macumbaria", "sai daí satanás", essas coisas - a resposta é levar um mar de flores para esse lugar.

Descrição: um mar de pipoca como um jardim de flores para as águas e os barcos do porto de Icoaraci. Levamos também uma panela grande de feijão pra gente comer junto, e debaixo duma mangueira...
Potência artística: O racismo é um câncer social, mas as tradições de matriz africana tem tratamento para cura de doenças...

 

No trajeto das águas, sobre o sulco dos rios. Experimentação poética de Glauce Santos.





Experimentação poética de Glauce Santos. Projeto Nós de Aruanda. Belém: Galeria Theodoro Braga, abril de 2016.

Morada dos encantados. Experimentação poética de Samantha Silva.





Experimentação poética de Samantha Silva, Projeto Nós de Aruanda, Belém: Galeria Theodoro Braga, abril de 2016

Fluxo de benção. Ação poética de Tainah Jorge.





Ação poética de Tainah Jorge para o projeto Nós de Aruanda, Belém: Galeria Theodoro Braga, abril de 2016.


 
Fluxo de Benção

De forma intuitiva, nasceu "Fluxo de Benção", uma proposta de intervenção urbana com o intuito de falar por stencils pixados em postes na região central de Belém, de amor e benção dentro de um padrão de línguas e linguagens dos povos tradicionais de matriz africana.

A partir de um grupo de mensagens instantâneas que foi criado para dividir informações sobre outro projeto ( trilha “Afro Amazônicos e seus símbolos” do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi), emanou-se então uma comunicação diária de informações sobre o movimento social de povos tradicionais de matriz africana. Em meio a este fluxo informacional, as Mães e Pais de Santo envolvidos nessa micro comunidade, com amor e respeito mútuo entre suas diversas nações, trocam bênçãos e mensagens de força e amor em suas línguas e linguagens específicas de cada nação, gerando um curso, como uma corrente diária de orações constantes, recorrente entre essas pessoas. Já que faz-se necessário no momento contemporâneo a deliberação da pauta social latente das questões de identidade e suas relações de interculturalidade para formação de respeito mútuo e para a construção de uma cultura democrática de paz, a proposição decide transpor o curso informacional restrito a comunidade virtual, para as ruas da cidade.

O pixo é uma arte invisibilizada que surge e está presente na urbanidade. Sua comunicação é restrita aos seus grupos. É subjulgada e polemizada, assim como muitas ações de outras culturas, como a própria matriz africana. Portanto, unem-se expressões marginalizadas para falar de amor. Um amor que deve ser compreendido para ser respeitado, aceito e valorizado, como parte da construção sociocultural do que é ser amazonido, do que é ser brasileiro.

Assim, foram espalhadas frases por ruas movimentadas de Belém e de Ananindeua, expressando desejos de saúde, justiça e caminhos de sucesso pra todos que passarem e se identificarem com a obra. Com a intenção de continuidade desse fluxo, pretende-se agora estender o convite aos pedestres que apoiam a construção de respeito, paz e amor entre diferentes povos para fotografar os pixos e compartilhar em suas redes sociais, usando as hashtags do projeto. Ao final,  será exposto na Galeria Theodoro Braga, dentro do coletivo "Nós de Aruanda", um painel com todas essas fotos, comprovando a vontade de quem participou dessa construção de reverência a essa cultura pacifista.

Tainah Jorge
Estudante de Ciências Socais, agente cultural e figurinista, filha de santo de Mãe Esther de Jarina, da Seara da Oxossi,  Tambor de Mina, há 7 anos.

 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Museu Goeldi inaugura “Trilha Afro Amazônicos e seus Símbolos”

Projeto educativo vai mostrar a estudantes do ensino médio as relações entre culturas afro religiosas e espécies de plantas do acervo do Parque Zoobotânico. Saiba como participar
Agência Museu Goeldi – As árvores contam histórias, partes do nosso próprio passado que por vezes desconhecemos. O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) inaugura em abril a “Trilha Afro Amazônicos e seus Símbolos”, um roteiro ecológico pelo Parque Zoobotânico que contempla a cultura afro amazônica e suas relações com a natureza.
O projeto do Serviço de Educação (SEC) do Museu foi construído em parceria com comunidades de terreiro de matriz africana em Belém (Candomblé, Umbanda e Mina são algumas delas). Mametu Nangetu, Baba Tayando, Mãe Nalva, Mãe Jakolocy, Mãe Vanda e Pai Alfredo são alguns dos pais e mães de santo convidados. Eles identificaram plantas do acervo do Parque com significado e importância cultural para as suas respectivas religiões; são essas plantas que fazem parte da trilha.
Todo o processo foi transformado em vídeos didáticos que serão disponibilizados para escolas da rede básica de ensino como ferramenta pedagógica. O material é recomendado para ser assistido por estudantes em sala de aula antes de uma visita ao Parque Zoobotânico.
A “Trilha Afro Amazônicos e seus Símbolos” faz parte do projeto de pesquisa da bolsista de Educação Tainah Jorge. Ela explica que a meta desse projeto é estimular o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, de acordo com a Lei Federal 10.369.
A lei, promulgada em 2003, se refere à inclusão no currículo escolar do estudo da História da África e dos Africanos, da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do negro na formação da sociedade nacional. “A realização desse roteiro possibilita o acesso ao conteúdo afro brasileiro, criando um espaço de informação, educação e conscientização. Uma ferramenta de necessidade pública”, afirma.
Como participar – A primeira fase da “Trilha Afro Amazônicos e seus Símbolos” é o minicurso de formação sobre o projeto para professores de nível médio (1º a 3º ano) do ensino básico. Nele serão explicados os fundamento e os saberes ancestrais, bem como as plantas que fazem parte da trilha. O minicurso acontece no próximo dia 13 de abril (quarta-feira) de 9h às 11h30 e 14 de abril (quinta-feira), de 9h às 11h30 e de 14h às 16h30.
Os docentes interessados em participar do projeto devem se inscrever até esta sexta-feira (9) no Núcleo de Visitas Orientadas (NUVOP), localizado no Parque Zoobotânico (Av. Magalhães Barata, 376, bairro São Braz). Serão 30 vagas para professores no total. Para mais informações, ligue para o telefone (91) 3182-3249.
Texto: João Cunha, originalmente publicado no site do Museu Goeldi.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Manifesto público e reivindicações de Povos e Comunidades Tradicionais de Belém face ao projeto de Reforma do Ver-O-Peso

Manifesto público e reivindicações de Povos e Comunidades Tradicionais  de Belém  face ao projeto de Reforma do Ver-O-Peso


Autoridades e lideranças de povos tradicionais de matriz africana, defendem o direito ao Ver-o-Peso.




     No 12 de janeiro de 2016,  no  ato comemorativo dos 400 anos da cidade Belém,  foi anunciada pelo Prefeito Zenaldo Coutinho e o governador do Pará, Simão Jatene a reforma e revitalização do complexo do Ver-o-Peso. Nesse Autoridades dos povos tradicionais de matriz africana tentaram apresentar ao Prefeito uma série de propostas de políticas públicas de combate ao racismo religioso elaboradas pelo movimento “Atitude Afro”. Esse propósito foi impedido quando nossa manifestação foi recebida com um corredor polonês de evangélicos e o lançamento de spray de pimenta sobre os manifestantes os povos tradicionais de matriz africana.  Posteriormente,  a Associação dos Filhos de Amigos do Ilê Iya Omi Ase o Fa Kare (AFAIA), o Centro de Estudo e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA), o Instituto Nangetu e  a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), protocolaram no Ministério Público do Estado do Pará (MPE), uma representação contra a Prefeitura de Belém, em função das atitudes De racismo religioso, amparado pelo estado que configura o genocídio de um povo. Violência contra um grupo étnico com aparato do estado ou mesmo racismo institucional, ocorridas naquele data. 

         Da mesma forma  que naquele evento  chamamos  atenção para a necessidade de Políticas Públicas contra o racismo religioso, também temos o propósito de  nós manifestar sobre o projeto de reforma e revitalização do Ver-O-Peso, que concerne diretamente aos povos e comunidades tradicionais de Belém, entre eles povos de matriz africana, quilombolas, benzedeiras, comerciantes de ervas e animais.  No entanto,  apontamos dificuldades de conversar com a gestão municipal sobre esse projeto e procuramos por todos os meios de dialogar com o Instituto de Patrimônio Histórico e Artistico Nacional - IPHAN. 

         Nossos argumentos neste Manifesto  apoiam-se nos  marcos legais que nos garantem escuta diferenciada quando em intervenções em espaços que se reproduzem as nossas tradições. Somos Povos Tradicionais,  regidos pela Convenção 169  da Organização Internacional do Trabalho, o Decreto  6040  de  2007 e os artigos 215 e 216  da Constituição Federal  de 1988. 
O artigo 215 consagra o princípio da diversidade cultural, ao garantir o pleno exercício de direitos culturais e o apoio e difusão das manifestações culturais populares, indígenas e afro-brasileiras, impondo ao Estado brasileiro a observância desses direitos,  assim deve promover a valorização da diversidade étnica e regional,  a democratização de acesso aos bens culurais, à defesa e valorização do patrimônio cultural,  que constituem ações fundamentais para o desenvolvimento cultural do país.   O artigo 216,  seção II – Da Cultura, estabelece o patrimônio cultural brasileiro composto por bens de natureza material e imaterial, individuais e coletivos, protadores de referencia à identidade, à ação e à memória dos distintos grupos que formam a sociedade brasileira, estando representadas em 5 categorias, a saber: I – as formas de expressão; II – os modos de criar,  fazer e viver; III – as criações científicas, artisticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artistico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagistico, artistico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
         O Decreto 6040 de 7 de fevereiro de 2007  define no artigo 3º   I - Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição;

         A Convenção  169  da OIT estabelece no artigo 4º:  1. “Deverão ser adotadas as medidas especiais necessárias para salvaguardar as pessoas, as instituições, os bens, o trabalho, a cultura e o meio ambiente desses povos.  2.  Essas medidas especiais não deverão ser contrarias aos desejos livremente expressos por esses povos.  3. De maneira alguma deverá ser prejudicado por essas medidas especiais o gozo, sem discriminação, dos direitos gerais da cidadania”.
         A Convenção  169  da OIT destaca a consulta e a participação dos povos interessados e o direito desses povos de definir suas próprias prioridades de desenvolvimento na medida em que afetem suas vidas, crenças, instituições, valores espirituais e a própria terra que ocupam ou utilizam.  Conforme o artigo 6º os governos deverão: A) consultar esses povos, mediante procedimentos apropriados, principalmente por meio de suas instituições representativas,  toda vez que se considerem medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente.  B)  estabelecer os meios pelos quais esses povos possam participar livremente, pelo menos na mesma proporção que os demais segmentos da população  e  em todos os níveis, na adoção de decisões em instituições eletivas e órgãos administrativos e de outra natureza, responsáveis  por políticas e programas que lhes digam respeito.  C) criar os meios para o pleno desenvolvimento das instituições e inciativas desses povos e, nos devidos casos, proporcionar os necessários recursos para este fim.  D) as consultas realizadas na aplicação desta Convenção deverão ser fietas de boa fé e de acordo com as circunstâncias, com o objetivo de se chegar a um acordo ou obter o consentimento sobre as medidas propostas”

         Nós, autoridades tradicionais de matriz africanas buscamos o dialogo que permita o reconhecimento e respeito de direitos étnicos e culturais. Nesse interregno de dois meses,  provocamos duas reuniões  com os técnicos do IPHAN.  Essas reuniões ocorreram: em 27 de fevereiro quando fomos ao auditorio do IPHAN com objetivo de conhecer o projeto arquitetonico. Em 1º  de março, quando participamos de uma conversa no próprio Ver-o-Peso com técnica do IPHAN e nós povos Tradicionais de matriz africana mostrando in loco os lugares para a preservação da nossa tradição e de comércio de ervas, animais e outros produtos necessários para a manutenção das tradições de matriz africana no Pará.  Nesse dialogo temos solicitado para que o Iphan intermedeie o diálogo com a Prefeitura de Belém, sobre a revitalização da feira, sem a eliminação da venda de animais vivos, ou bicho em pé, e de locais necessários para a preservação das tradições de matriz africana na pedra do Peixe do Ver-o-Peso, na orla da feira e na escadinha do Cais do Porto.  

         Na visita que fizemos na feira, nos foi informado que o IPHAN e o Ministério Público Estadual  MPE iriam colocar o projeto em consulta pública na internet e que nós poderíamos intervir na proposta pela internet.  Na oportunidades, nós fizemos uma contra proposta de reunião presencial com povos tradicionais de territórios tradicionais negros. Para isso argumentamos que a preservação desse comércio influencia na economia de dois polos de territórios tradicionais negros, os quilombos - que produzem os alimentos vegetais e animais; e os terreiros, que consomem esses produtos e com eles reproduzem as tradições alimentares de origem africana.
         No dia 16 de março ocorreu a reunião no prédio do Ministério de Educação e Cultura (MINc) em Belém,  convocado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no qual participaram 26 representantes de organizações governamentais e da sociedade civil para debater a permanência do setor de venda de animais vivos no Complexo do Ver-o-Peso.  Os comerciantes de animais vivos inseridos no debate reclamaram de sua atividade não ter sido considerada no plano de reforma da Prefeitura Municipal de Belém (PMB)  enfatizando o caráter tradicional e o fato de ter sido considerados durante a elaboração da primeira etapa do projeto de reforma. A compra e abate de animais vivos é parte fundamental da existência e reprodução das práticas tradicionais de matriz africana.
         No dia 31 de março próximo encerra o prazo do que está sendo apresentado como  “consulta pública”  sobre a proposta de intervenção (projeto básico) para a Feira do Ver-o-Peso, integrante do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico tombado pelo Iphan em 2012 (Portaria MinC nº (Lei nº 12.527/2011), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).   Ante os fatos  exposto e a iminencia dessa data, nós povos e comunidades tradicionais de Belém reivindicamos:

         1. Que o Projeto Básico seja revisto inserindo o espaço para comercialização de animais vivos, ervas e plantas.  Essa  revisão deve estar contemplada nos projetos para a Feira do Açaí, Solar da Beira e Pedra do Peixe  em atenção a se tratar de práticas  de povos tradicionais.
            2.  Que  seja obedecido pelo IPHAN e Prefeitura de Belém o que estabelece a Convenção 169 da OIT  no seu artigo 6º  acima transcrito  no relativo à consulta aos povos tradicionais. Esse procedimento deve corresponder a uma consulta livre, previa e informada. O que difere  da consulta publica por intenet  e ainda a anunciada pelo IPHAN de realização de uma Audiência Pública para apresentação do projeto.
            3.  Que consoante a essas reivindicação anterior seja  revisto o prazo para esta etapa e a imediata definida pelo IPHAN.
            4. Que o Ministério Público Federal – MPF focalize e insista junto ao IPHAN no tocante aos dispositivos juridicos que dizem respeitos aos povos e comunidades tradicionais do Pará. Até o presente nos parece não terem sido reconhecidos no Projeto básico.  Ainda que essa instancia reitere o caráter das consultas públicas aos povos tradicionais.