segunda-feira, 30 de abril de 2012

4 de maio tem Copacabana, de Carla Camurati, no Cineclube Nangetu


Copacabana, de Carla Camurati, Brasil, 2001. 100 min.
Sinopse: Às vésperas de completar 90 anos, Alberto vive uma crise pessoal, em que recorda dos fatos mais marcantes de sua vida, todos eles de alguma forma ligados ao bairro de Copacabana. Enquanto isso, seus principais amigos preparam uma festa-surpresa, dispostos a comemorar mais um aniversário de Alberto.



Crítica


Copacabana , mosaico carioca de tipos humanos, é cenário de reflexões
sobre a velhice

* Por   Gláucia Leal
Impossível falar da vida sem aludir à morte. Carla Camurati sabe disso. Em "Copacabana" , seu terceiro filme como diretora, ela expõe na tela a alegria de viver e a importância de envelhecer com dignidade. “O filme ficou como eu queria”, derrete-se. Preciosista , ela dispensou igual cuidado a cada aspecto da produção. “O elefante que usamos na cena da praia, por exemplo, conseguimos com o parque Beto Carrero”, conta. Para parecer 30 anos mais jovem e envelhecer outras três décadas, em diferentes momentos do filme, o ator Marco Nanini (também protagonista de Carlota Joaquina – a Princesa do Brazil ) foi maquiado pelo mexicano Martin Macias. Seu personagem, o fotógrafo Alberto, a poucos dias de completar 90 anos, é invadido por recordações de seu quase um século de existência. Os amigos -- a maioria,contemporâneos seus -- insistem em comemorar a data em uma grande e colorida festa.“O filme diz que a maior riqueza na vida são os amigos que fazemos”, afirma Carla.
A história traça um painel da vida do País e do bairro, desde o início do século, evocando episódios memoráveis, como o "Movimento dos 18 do Forte", o sobrevôo do Graf Zeppelin e a inauguração do Hotel Copacabana Palace.
"Copacabana" é uma produção de contrastes. Viaja do passado ao futuro, desliza no limiar sutil entre a fantasia e a realidade. Travestis, prostitutas e idosos dividem, harmonicamente, a cena.“Essa multiplicidade é a cara de Copacabana”, comenta Carla. “O bairro é uma espécie de de país único, de planeta próprio”, resume.
Carla conseguiu a façanha de reunir o maior grupo de atores brasileiros com mais de 65 anos em um único filme .No elenco, estão grandes nomes do teatro e do cinema nacional, como Laura Cardoso, Walderez de Barros, Míriam Pires, Ida Gomes, Renata Fronzi, Luís de Lima, Pietro Mário , Ilka Soares.“Tínhamos o set de fimagem mais divertido do mundo”, comemora a diretora. “Trabalhar com atores como Laura Cardoso, Renata Fronzi e outros era um sonho meu.”
Mesmo falando de terceira idade, o filme tem um tema musical ousado. A música "Copacabana Planet" ( quase um rap ) interpretada pela cantora Bia Pontes, ainda pouco conhecida no mercado, traz à tona uma outra “princesinha do mar”, que se oferece e envelhece pelas esquinas, perdendo sonhos em meio à realidade crua das ruas.
No filme, a velhice é tratada sem falsos pudores. Mas, é com graça que Carla aborda, por exemplo, temas delicados como a vida sexual depois dos 80 anos. Impossível não rir com a personagem da senhora octogenária --já bisavó-- que, para desespero da filha , masturba-se na sala, enquanto assiste à televisão.
A produção também trata com humor o medo da morte, a inveja, os desejos (ainda) pulsantes e a profusão de lembranças que acompanham os personagens . "Copacabana" fala ainda sobre as mentiras que, contadas ao longo dos anos, passam a ser tidas como verdades, a ponto de se transformarem em crenças coletivas.
A própria cineasta passou parte da vida acreditando que o primeiro-ministro britânico Winston Churchill , em viagem pelo Brasil, teria provado um bolo feito por seu avô, Enrico Camurati, confeiteiro do Hotel Copacabana Palace. Só quando encomendou uma pesquisa histórica para precisar as circunstâncias da estadia de Churchill no País, foi que descobriu, surpresa, que não existem registros dessa visita. Ainda assim, a diretora, que costumava visitar o avô no hotel quando criança, criou um personagem inspirado no estadista.
Carla vinha realizando pesquisas para escrever o roteiro do filme desde 1995. A idéia da produção começou a se delinear quando, em visitas à sua tia doente, moradora em Copacabana , ela constatou que o bairro tornava-se cada vez mais habitado por pessoas idosas.
Carla Camurati , que também assina a produção do filme, divide o roteiro com Melanie Diamantas e Yoya Würsh. "Copacabana" foi orçado em R$ 2 milhões e 700 mil. A produção executiva é de Bianca de Felippes e Flávio G. Chaves e a direção de fotografia, de José Tadeu Ribeiro. Arte e figurinos ficaram por conta de Emília Duncan.

* Gláucia Leal é repórter do jornal "O Estado de S.Paulo"

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