Performance de Carlos Vera Cruz para o Projeto Nós de Aruanda, Galeria Theodoro Braga, abril de 2016.
Luna kubanga kuta kueto Nkosi (Nkosi, aquele que briga por
nós.)
Nkosi é um nkisi da nação de candomblé Angola. Divindade
Bantu de origem Kongo, que no Brasil é comparado ao orixá Ogum dos Nagô Yorubá.
Talvez por ser o senhor da guerra e do ferro; aquele que briga por nós,
seguidores desta nação de candomblé. É o leão sagrado, o guerreiro da justiça,
o comedor de alma dos ímpios e injustos. Já que a Antropofagia tem suas bases no ritual antropofágico dos povos Tupinambás do Brasil colônia, o qual tinha o tema da vingança como principal força motriz. Foi nesta perspectiva, a da vingança, que propus a performance de intervenção urbana NKOSI’S BIKE, realizada na cidade de Belém do Pará. Uma cidade construída a partir da exploração de mão de obra escrava de origem Bantu . As mãos Bantus, como tecnologia, construíram a Amazônia colonial. E Nkosi, por ser o senhor do ferro, também é o nkisi da tecnologia.
NKOS’S BIKE é uma performance negra de intervenção urbana, que a partir da ideia Antropofágica de Oswald de Andrade e seus desdobramentos, propôs relações entre as populações de dois bairros de periferia de Belém (Cremação e Guamá), com a cultura Bantu presente na Amazônia. Foi a minha vingança Bantu; como a vingança dos Tupinambá, performada no ritual antropofágico. O Senhor da Guerra, montado em seu cavalo de aço, devorando qual leão da savana os inimigos, e se fortalecendo no cotidiano periférico da selva-urbe equatoriana.
O nosso guerreiro maior, comendo as referências assimiladas, e saindo em batalha por visibilidade e reconhecimento de uma Amazônia Negra, obscurecida pelo mito da predominância indígena na região. Buscando, na devoração do outro pelas abordagens, encontrar a si próprio, na esperança da aceitação identitária.
Carlos Vera Cruz
Artista, Performer e membro do Mansu Nangetu.
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