domingo, 18 de março de 2012

Uma caminhada para a memória de Mãe Doca e pela resistência da fé de matriz africana na Amazônia.

Povos de terreiros em caminhada pelo centro de Belém.
A caminhada saiu do Ver-o-rio, onde deveria existir o Memorial dos Povos Negros.


Os povos tradicionais de terreiros afro-amazônicos da zona metropolitana de Belém deram um exemplo de mobilização política para festejar o Dia (estadual e municipal) da Umbanda e das Religiões Afro-brasileiras de Belém e do Estado do Pará, e as várias comunidades sairam em caminhada pelas ruas do centro da capital paraense chamando a atenção da população para a necessidade eminente de defesa das garantias constitucionais de direito ao credo e à liberdade religiosa.
A concentração foi no espaço “Ver-o-rio”, no Umarizal, local onde deveria funcionar o Conselho Municiapal de Negras e Negros de Belém e o Memorial dos Povos Negros que prevê abrigar equipamentos culturais e espaços para práticas de reiligiões afro-amazônicas. 

Mametu Nangetu (ao lado da pastora Cibele Kuss) saudou todas as nações afro-amazônicas e a diversidade de crenças.
Ainda nos primeiros momentos, Mametu Nangetu fez questão de celebrar a presença de lideranças de terreiros das sete nações que formam a diversidade de religiões afro-amazônicas nesta capital, e foi seguida por membros de várias outras crenças que compõem o Comitê Inter-religioso do Estado do Pará que em várias falas ressaltaram a importância do respeito à diversidade religiosa e denunciaram grupos fundamentalistas que se infiltram nas equipes dos governos de representantes do povo em cargo eletivo com intenções escusas de promoção da intolerância usando a maquina estatal para a imposição de crenças, ou de ganhos pessoais em esquemas de corrupção na administração pública. 

Pai Fábio de Ogum, coordenador do INTECAB-PA.

Pai Fábio de Ogum, coordenador estadual do INTECAB-PA e um dos organizadores da caminhada, iniciou então o cortejo cultural que saiu do Ver-o-rio contornando a área portuária em direção à Praça da República, tudo com a animação ao som o Grupo Batuque e da bateira da Escola de Samba 'Xodó da Nega' sob a batuta de Táta Edson Santana, percussionista e sacerdote do Rundembo Axé ti Jaciluango.

Edson Santana no comando da bateria do "Xodó da Nega" (Foto de Daniela Cordovil)

Gruopo Batuque e Bateria da Escola de Samba "Xodó da Nega" estavam sob a batuta de Edson Santana.


Foi então que no meio da Av. Presidente Vargas o sociólogo Domingos Conceição falou do inicio da construção do Memorial dos Povos Negros, projeto apresentado pelo Movimento Social Negro à prefeitura de Belém durante a gestão do prefeito Edmilson Rodrigues, e de como esse projeto foi abortado pela atual gestão de Duciomar Costa. Em seguida as Professoras Eleonor Palhano e Taíssa Tavernard de Luca apresentaram as ações que beneficiam os Povos Tradicionais de Terreiros dentro da UFPA e da UEPA, em especial Taíssa ressaltou que a pesquisa na área de antropologia urbana nas duas universidades se consolidaram pela pesquisa com as questões do “Povo de Santo”.

Domingos Conceição, sociólogo e militante, falou do memorial dos Povos Negros. (Foto de Daniela Cordovil)


Taíssa Tavernard de Luca falou em nome do GERMA/UEPA (foto Daniela Cordovil)

Por fim, Araceli Lemos, que é ex-deputada e a autora do projeto que propôs instituir o 18 de março como o dia da Umbanda e das Religiões Afro-Brasileiras e que depois de aprovado se tornou a Lei Estadual nº 6.639 de 14 de abril de 2004, falou como enfrentou os grupos fundamentalistas dentro da Assembléia Legislativa do Estado do Pará e disse que o fundamental para a aprovação desta Lei foi a mobilização dos Povos Tradicionais de Terreiros que se mantiveram em manifestações públicas durante todo o período de debate a votação para a aprovação da Lei.

Babá Edson Catendê e Afoxé Ita Lemi Sinavuru finalizou o cortejo.

Sob o comando do Bablorixá Edson Catendê, foi o Afoxé Italemi Sinavuru (considerado a voz dos afro-religiosos no carnaval paraense) quem fez a festa na chegada na área da Praça da República, rememorando os sucessos que cantam a afro-religiosidade em sambas dos nove desfiles do 'Bloco Afro do Pará', e neste ato político em celebração à memória de Mãe Doca o Ita Lemi Sinavuru não foi diferente e deu voz aos grupos marginalizados pelo poder constituído, abrindo o microfone do carro som do afoxé para a manifestação dos discursos de todas as lideranças de terreiros presentes que quiseram se manifestar. Ele dizia “Olorum não se baseia em diferenças, Olorum empoderou todas as lideranças de terreiros independente de gênero, de raça, de títulos universitários ou de classe social, e é por isso que o microfone e o carro som do Afoxé Italemi Sinavuru estão abertos à todas as lideranças de terreiros – aqui é microfone aberto!”


E com o Ita Lemi Sinavuru a manifestação não teve hora pra acabar.

Mametu Muagile (Mãe Beth de Bamburucema) foi a primeira a fazer uso da palavra conquistada, sendo seguida pelas lideranças da diversidade afro-religiosa do Pará.... E com cantigas de terreiros e discursos políticos de afirmação de identidades plurais, a manifestação prosseguiu pela tarde adentro preenchendo a praça da República de religiosidades afro-amazônicas.
Foi assim que Mãe Doca se fez presente no coração de cada um de nós.



Texto e fotos de Táta Kinamboji para o Projeto Azuelar/ Instituto Nangetu – Ponto de Mídia Livre.

álbum com mais fotos pode ser visto no link https://picasaweb.google.com/106068480372572074361/CaminhadaPelaLiberdadeReligiossa2012

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