Essa foi a pergunta que mais se fazia nos bastidores do pré-lançamento do Mapa da Cartografia Social dos Afro-religiosos de Belém, que aconteceu no dia 11 de dezembro no auditório do IPHAN em Belém.
Foi a pesquisadora Camila do Vale, professora da UFRRJ, quem apresentou o projeto que identificou mais de 3 mil terreiros nas cidades de Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Santa Isabel. Ela falou do levantamento detalhado dos espaços sagrados - templos, casas, terreiros, tendas, searas, e outras denominações, além da identificaçnao dos locais de coleta de folhas nas matas e de compra de ervas, locais onde a realização de ritos religiosos são tensas e que identificou até as situações de conflitos e intolerância religiosa. Ela apresentou a “Cartografia Social dos Afro-religiosos em Belém do Pará, religiões afro-brasileiras e ameríndias da Amazônia: afirmando identidades na diversidade" como um documento que dá visibilidade às comunidades tradicionais de terreiros das nações presentes na capital paraense, e que poderá ser uma referência para a construção de políticas públicas específicas para a afirmação dos povos tradicionais de terreiros.
O auditório estava lotado de Lideranças de Terreiros, que contrariaram a expectativa pessimista que considerava que seria difícil reunir um grupo representativo num domingo de plebiscito no Estado do Pará. Pois o que aconteceu foi exatamente o contrário da previsão pessimista, e o que vimos foi a presença maciça de Mães, Pais, filhos, simpatizantes e pesquisadores prestigiando o Pré-lançamento do Mapa dos Terreiros da zona metropolitana de Belém.
A previsão é que o livro e o Mapa sejam lançados no dia 18 de março –
dia dedicado às religiões afro-brasileiras em Belém e no Pará -, pois é o
dia que se celebra a memória da luta de Mãe Doca pela realização dos
rituais de Tambor de Mina em Belém no século passado. Camila ainda disse
que pesquisa aquilo que ela não sabe, e que se soubesse não precisaria
pesquisar, e com essa reflexão salientou a participação de lideranças de
cada uma das nações representadas no mapa: Angola, Jeje Savalu, Ketu,
Mina Jeje Nagô, Umbanda e Pajelança, atribuindo à essas lideranças o
papel fundamental de decisão sobre as informações reunidas e os
resultados da pesquisa.
Mametu Nangetu foi a primeira das lideranças de terreiros que coordenou a pesquisa a falar, e disse que o trabalho com a Nação Angola foi gratificante porque lhe deu a oportunidade de visitar os terreiros e conhecer mais profundamente as condições de vida de seu povo. Lembrou a distinção com que foi recebida em cada casa de culto e reafirmou a importância de sabermos quem nós somos e onde estamos, e terminou fazendo referência à necessidade de afirmação da identidade afro-religiosa para a visibilidade dos terreiros e para o combate à intolerância religiosa.
Mãe Nalva d'Oxum, Mãe Vanda de Rompe Mato e Babá Tayando deram seqüência aos discursos das lideranças de terreiros coordenadores da pesquisa, reafirmando a importância dos resultados do projeto para a difusão de conhecimento sobre as práticas religiosas de matrizes africanas na Amazônia.
O evento também abrigou o lançamento do livro "Interdisciplinando a Cultura na Escola com o Jongo", de autoria de Lúcio Sanfilippo, que trouxe uma outra experiência de pesquisa do patrimônio imaterial afro-brasileiro e sua aplicação prática nas escolas, em sintonia com a Lei 10.639/2003.
E com a divulgação do trabalho sobre o jongo e sua utilização nas escolas, soou o eco da pergunta que circulava silenciosa entre os presentes: os professores das escolas vão mesmo utilizar os documentos da religiosidade afro-amazônicas para difundir o conhecimento sobre os povos de terreiros, ou o preconceito e a intolerância religiosa ainda vai tentar confinar este mapa em prateleiras e arquivos escondidos nos fundos das bibliotecas....
E se o preconceito existe pelo desconhecimento, quanto mais publicações e acesso à elas, melhor! E em breve poderemos ver esses documentos também disponíveis para download na internet.
Texto e fotos de Táta Kinamboji/ Projeto Azuelar - Instituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.
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