quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Mametu Nangetu participou da audiência pública para o diálogo inter-religioso, na liberdade e convivência respeitosa entre os diversos cultos e na laicidade do Estado.

Atualizado em 20/08/2015 - 00h16

Líder de candomblé contesta classificação de religiões afro como minorias

A líder do candomblé no Pará, Oneide Rodrigues, mais conhecida como Mam'etu Nangetu, contestou as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que definem os seguidores de cultos afros como "minoria" religiosa. Segundo ela, até por temor à intolerância, muitos adeptos do candomblé, umbanda e outros cultos se dizem católicos para os recenseadores.
Antonio Araújo/Câmara dos Deputados
Audiência pública para debater sobre a contribuição na promoção do diálogo inter-religioso, na liberdade e convivência respeitosa entre os diversos cultos e na laicidade do Estado. Sacerdotisa de Matriz Africana, Oneide Monteiro Rodrigues (Mãe Nangetu)
Mam'etu Nangetu: por temor à intolerância, muitos adeptos de cultos afros se dizem católicos

Os deputados Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) e Pastor Eurico (PSB-PE) anunciaram que vão cobrar do IBGE a revisão da metodologia de pesquisa para aferir, com mais precisão, o tamanho das diversas religiões no País. As declarações foram feitas nesta quarta-feira (19), em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.
Mam'etu Nangetu se queixou, ainda, da baixa representatividade dos seguidores de cultos afros no Parlamento e da dificuldade de a religião conseguir acesso aos meios de comunicação, inclusive às rádios comunitárias, "para mostrar que o nosso Deus não é satanás".
Violência
Também na audiência, o presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) e professor da Universidade Federal de Sergipe, Uziel Santana, causou polêmica ao trazer para o contexto brasileiro a distinção entre violência religiosa real e simbólica.
A primeira envolveria, por exemplo, guerra civil ou ação de terroristas com foco religioso e não ocorreria no Brasil. "A violência aqui é simbólica e também atinge os evangélicos, vítimas de pedradas e Bíblias queimadas, sobretudo no século 19", afirmou.
Uziel foi contestado principalmente pelo monge católico Marcelo Barros e pelo deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), para quem as agressões, sobretudo a terreiros e seguidores de cultos afros, são exemplos de "violência real".
O presidente da Anajure citou ainda o relatório internacional sobre intolerância religiosa para afirmar que o cristianismo é a religião mais perseguida do mundo, como mostram alguns genocídios de minorias cristãs no Oriente Médio e no norte da África. Ele defendeu a aprovação do projeto de Estatuto da Liberdade Religiosa (PL 1219/15), em tramitação na Câmara.
Ações do governo
O coordenador-geral do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Alexandre da Fonseca, citou algumas ações da secretaria para garantir o respeito às diferenças de crença, à liberdade de culto e à laicidade do Estado: fortalecimento dos comitês e fóruns estaduais de diversidade religiosa, campanhas contra a intolerância religiosa, inclusive por meio de cartilhas e livros; e popularização do Disque 100 como instrumento de denúncia.
O Disque 100 registrou 543 denúncias de violações de direitos por discriminação religiosa entre 2011 e 2014. Desse total, 216 casos tiveram informação sobre a religião da vítima: 35% candomblé e umbanda, 27% evangélicos, 12% espíritas, 10% católicos, 4% ateus, 3% judaicos, 2% islâmicos e 7% outras.

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