domingo, 17 de julho de 2011

“O Orixá que anda” na Rede de Cineclubes nos Terreiros

“O Orixá que anda”, essa foi a frase que o cineasta Luiz Arnaldo usou pra descrever o Mestre Verequete. Ele começou a debater o filme “Chama Verequete”, filme que fez em parceria com Rogério Parreira e que a Rede de Cineclubes nos Terreiros exibiu no Cineclube ACAOÃ no sábado, 16 de julho, falando de como conheceu o mestre. Disse que estava em reunião com o então prefeito Edmilson Rodrigues quando sem muito alarde e sem sem ser importunado pela segurança do palácio, entrou na sala a chefia de gabinete falando da presença do Mestre Verequete.

Baba Tayando fazendo o acolhimento ao cineclube




O cineasta relatou que Verequete disse que havia ouvido uma voz que lhe disse: “vá falar com o homem!”, e sem muito saber o porquê da voz ter lhe dado essa missão, mesmo assim ele foi até o gabinete do prefeito. Luiz Arnaldo disse ter sido conquistado desde essa primeira conversa, e que as estórias ali contadas abriam um leque de possibilidades para que ele próprio, um carioca recém chegado em terras amazônidas, pudesse encontrar os seus caminhos de relacionamento com o imaginário mítico e religioso destas terras onde é a água quem dita a regra.



Luiz Arnaldo diz que quando começa um projeto de filme documentário, tenta fugir de uma interpretação autoral ou uma opinião sua sobre o assunto do filme, mas que prefere que o assunto fale por ele mesmo, que essa foi a sua intenção com o”Chama Verequete”, assim como com “A descoberta da Amazônia pelos turcos encantados”. No caso de Verequete, deixou de fora questões importantes como musicas roubadas do mestre, os problemas em receber receita vinda de direitos autorais e mesmo um aprofundamento sobre as condições de vida dele (aliás, condições que, por analogia, pode-se estender à todos os mestres da cultura popular), para poder fazer aquilo que era a vontade do mestre: mostrar a sua produção musical com as relações que ele fazia com as encantarias e com o Tambor de Mina.



Babá Tayando pediu a palavra e falou do Vodun Verequete, e disse que a figura do mestre era exatamente como a imagem que ele fazia da divindade cultuada em Tambor de Mina, um home alto, magro, elegante e ao mesmo tempo firme e sutil, que filmes como o que foi exibido no Cineclube ACAOÃ são importantíssimos para preservar a memória e difundir o conhecimento tradicional das práticas da cultura religiosa afro-amerindia, e que muito mais ainda haveria a ser feito nesse sentido. Táta Kinamboji concordou com ele e acrescentou da necessidade da participação nas esferas de diálogo entre sociedade e poder público, como as conferências de cultura, e, mais, com participação em colegiados de acompanhamento e fiscalização da aplicação prática da política cultural, para que num futuro próximo possamos voltar a ter a valorização da cultura afro-paraense e amazônida nos investimentos de financiamento público para a arte e cultura.
A conclusão geral foi a necessidade de termos mais filmes sobre comunidades de terreiros e suas relações com a musicalidade, com as artes cênicas e as artes visuais. Foi mais ou menos nesse momento que a roda de conversa tomou o rumo da produção: Luiz Arnaldo disse que todo mundo sabe fazer filmes de celular, e propôs para a rede de cineclube de terreiros que fizesse uma mostra de “filmes do santo” feito com filmes do próprio povo do santo, e Tata Kinamboji relatou que a proposta estava alinhada com a proposta do Projeto Azuelar, onde o Tata insiste no que chama de ‘tecnologia do possível’. Para ele a palavra qualidade só é usada pelo circuito de arte e de comunicação como critério de exclusão, mas que em contrapartida desse entendimento, a lógica com que o Instituto Nangetu tem utilizado a palavra qualidade prima pela inclusão, quem por lá os membros da comunidade fazem filmes com a tecnologia que lhes é disponível e porque a comunidade tem a vontade de fazer.
Kinamboji disse, então, que ia levar a proposta de realização da mostra de ‘filmes do santo’ para a Federação Paraense de Cineclubes – PARACINE, e para o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros – CNC, esperando que a direção das duas organizações cineclubistas abraçassem a causa e promovessem uma mostra de filmes nesses moldes, e terminou também dizendo que iria acrescentar a proposta de instituir o “Prêmio Luiz Arnaldo Campos de filmes de terreiros afro-amazônicos”.















A Rede de Cineclubes nos Terreiros da zona metropolitana de Belém é uma articulação criada por proposição do GT de Comunidades Tradicionais de Terreiros da Federação Paraense de Cineclubes - PARACINE, em parceria com a Diretoria Regional Norte do Conselho Nacional de Cineclubes - CNC. Fazem parte da Rede de Cineclubes nos Terreiros: Cineclube Nangetu, Cineclube ti Bamburucema, Cineclube ACIYOMI, Cineclube ACAOÃ, Cineclube Maristrela (AFAIA), Cineclube Estrela Guia Aldeia de Tupynambá.

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