quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Semana da Consciência Negra, Cineclube Nangetu apresenta o curta Macaco feio... macaco bonito... (1929), de Luiz Seel, uma das primeiras animações feitas no Brasil, em programa duplo com O Saci (1953), de Rodolfo Nanni, adaptação da obra de Monteiro Lobato para as telas.

Semana da Consciência Negra - discutindo o racismo pelo viés da literatura e do cinema.

  18 de novembro (sexta-feira) 19h.

Filmes: 1. O Saci, e 2. Macaco feio...macaco bonito...

Este programa traz algumas preciosidades da história do cinema brasileiro. São filmes pioneiros e modelos de excelência da produção audiovisual destinada ao público infantil. Macaco feio... macaco bonito... é um raro exemplar do cinema de animação feito no Brasil nos anos 1920, que conseguiu sobreviver até os nossos dias.





O Saci, adaptação da obra de Monteiro Lobato, conjuga de forma brilhante as peripécias do gênero de aventuras com as preocupações didáticas e culturais de uma geração que, já na década de 1950, sentia a necessidade de produzir um cinema humanista que falasse a nossa língua e que mostrasse na tela os hábitos e costumes brasileiros.



Crítica: DESCOBRINDO O BRASIL
Ruy Gardnier*

Visto hoje, é difícil compreender o papel totalmente pioneiro de um filme
como O Saci. Com efeito, há muitos anos existe uma indústria forte de
entretenimento para crianças. Respeitando uma lógica de segmentação
de mercado e “descobrindo” a criança como ávido consumidor, a partir de meados do século XX, vimos nascer um vasto aparato destinado a crianças, com bonequinhos, jogos de tabuleiro, programas de televisão, filmes e, posteriormente, videogames. Mas, toda vez que se discute a questão da diversão feita para crianças, um tema é recorrente: o componente educacional dentro do entretenimento. Ou seja, criar produtos que sejam interessantes para as crianças, mas que também carreguem em si elementos que possam servir à aprendizagem. Por vias transversas, a questão da educação no cinema também foi um tópico muito importante para jovens intelectuais de esquerda. Seguindo um ideário nascido com Lênin, que tinha o cinema como a mais importante das artes, diversos círculos comunistas viam nessa manifestação um veículo para despertar a consciência dos espectadores e tratar temas como a opressão, a igualdade (ou ausência dela) e a liberdade.
A facilidade que a arte cinematográfica tem de se comunicar com as massas seria a deixa para tratá-la também como instrumento de educação. No entanto, já àquela época, havia uma preocupação nos círculos intelectuais de esquerda que era prioritária em relação aos enredos de propaganda: o nacionalismo. Seguindo figuras influentes do período, como Jorge Amado, Graciliano Ramos ou José Lins do Rego, era necessário criar uma ficção que incorporasse os costumes e tradições próprios ao Brasil, opondo-se frontalmente à cópia de modelos europeus e construindo elementos para uma consciência da identidade nacional através de suas particularidades culturais. Essa preocupação iria aumentar e ganhar mais relevo nos anos seguintes, com Rio 40 graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, e com a eclosão do Cinema Novo nos anos 1960. O Saci é um pioneiro do cinema para crianças no Brasil e das preocupações do audiovisual educativo, mas, acima de tudo, da utilização dessa arte como meio de retratar a acionalidade na tela. O Saci é um filme agitado, cheio de peripécias típicas das narrativas de aventura para crianças, e com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo, criados por Monteiro Lobato e imortalizados por diversas séries de televisão desde a década de 1950 até o começo do século XXI.
Mas, se quisermos fechar os olhos para todos esses elementos dramatúrgicos, o que veremos em O Saci são elementos do folclore
brasileiro em uma geografia brasileira (vegetação, riacho, arquitetura
da fazenda etc.) e uma enorme atenção dada aos costumes da vida no
campo, como a impressionante cena em que Tia Anastácia faz pipoca.
E o filme, fazendo jus a algumas de suas preocupações políticas, ainda
coloca na boca do Saci um libelo à liberdade: “Ninguém nasceu para ficar preso”. Visto sob esse aspecto, o filme é bem mais do que um simples
entretenimento infantil: é o surgimento de uma ideologia.
Macaco feio... macaco bonito... (1929), animação realizada por Luiz Seel no estilo dos irmãos Fleischer (responsáveis pelas animações de Betty Boop), já trabalha em chave irônica ao elemento estrangeiro, dedicando jaulas no zoológico aos personagens Mickey, Gato Félix e Popeye, e utilizando como protagonista um “legítimo” macaco brasileiro, que foge do zoológico e vai viver com novo dono, integrado, em uma cabana em meio a palmeiras.

* Jornalista, editor das revistas eletrônicas Contracampo e Camarilha dos Quatro, crítico de cinema do jornal O Globo e pesquisador de cinema para o Tempo Glauber.

 

 

Cineclube Nangetu

Tv. Pirajá, 1194 – Marco da légua, Belém/PA. 91- 32267599.
Início de cada sessão- 19h. 
Ao final haverá roda de conversa com a comunidade do Mansu Nangetu.
O Cineclube Nangetu é premiado no Edital Cine Pará Mais Cultura, e conta com a parceria do Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Pará, Secretaria de Estado da Cultura, rede [aparelho]-: e Idade Mídia.
O Instituto Nangetu é Ponto de Mídia Livre/ 2009.

 

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