Diógenes Brandão - E falando do Pará, quais as políticas para comunidades de terreiros existentes no Estado do Pará?
Arthur Leandro - No governo Jatene? Nada! Pra quem não se lembra, a campanha do primeiro governo do Jatene em 2002 protagonizou uma das maiores intolerâncias religiosas no estado do Pará.
Diógenes Brandão - Como foi isso?
Arthur Leandro - O caso foi o seguinte: a gestão municipal era petista, com Edmilson Rodrigues, e o vereador Ildo Terra (PT) havia procurado lideranças de Terreiros para conversas que pudessem instrumentar o seu mandato para a proposição de políticas públicas para povos de terreiros.
Uma das coisas que eu falei ao Ildo Terra foi que em 1994 o Mansu Nangetu precisava fazer um ritual fúnebre no cemitério, e a prática até então era a de subornar os vigilantes noturnos e fazer esses rituais na madrugada.
Disse que eu convenci os sacerdotes do Mansu que a constituição nos dava liberdade de culto e que não precisávamos mais desses artifícios para realizar os nossos rituais, e então fomos ao cemitério municipal de Santa Isabel às 14h.
O cemitério não estava preparado para nos receber, e em principio o porteiro não nos permitiu a entrada, criando uma situação constrangedora que se resolveu depois de muito stress.
Dessas conversas com a base do governo municipal se traçou diversas ações que promoviam a cidadania da população de terreiros, inclusive um ato administrativo que orientava os funcionários dos cemitérios municipais para o tratamento digno a praticantes de quaisquer religiões e que evitava constrangimentos como o que tínhamos passado.
Um dos resultados dessas conversas foi a Festa das Raças, que aconteceu no final de agosto de 2002 dentro do Palácio Antônio Lemos, e que celebrava a conquista de políticas públicas e cidadania e a visibilidade social que a prefeitura finalmente promovia para povos de terreiros. Essa celebração foi filmada pelo gabinete do então vereador evangélico e fundamentalista Paulo Queiroz (PSDB), e essas imagens foram utilizadas em duas edições grosseiras que misturavam as imagens da festa com imagens de suposto despachos dentro de túmulos e que usavam linguagem jornalística para caluniar o prefeito e as comunidades de terreiros com a seguinte manchete “Prefeito abre cemitérios para macumbeiros violarem túmulos”.
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