Veja a notícia publicada no site da SEPPIR
Seminário aponta caminhos para o combate à discriminação das tradições africanas
Articulação do segmento frente ao
poder público, tratamento da questão como discriminação racial e novas
propostas pedagógicas que atuem na desconstrução de imaginários
maniqueístas foram algumas das estratégias apresentadas pelos
participantes
Lideranças religiosas, parlamentares e representantes
governamentais reuniram-se para debater estratégias de enfrentamento à
violência e ao desrespeito à ancestralidade africana no Brasil. Racismo,
intolerância, discriminação, desrespeito às práticas tradicionais são
causas e efeitos desse problema social. Para os participantes do
Seminário em Defesa da Ancestralidade Africana no Brasil, realizado
nesta quinta-feira (29), na Câmara dos Deputados, em Brasília, a solução
pode estar na melhor articulação do segmento frente ao poder público, o
tratamento da questão como discriminação racial e novas propostas
pedagógicas que atuem na desconstrução de imaginários maniqueístas.
De acordo com a secretária de Políticas para as Comunidades Tradicionais da SEPPIR, Silvany Euclênio, o seminário foi motivado pelo aumento da violência contra as tradições africanas no Brasil. “Essa violência é expressa pela agressão a lideranças, depredação de casas, ações contra práticas alimentares tradicionais, entre outros atos. Um encontro como esse é necessário para levar a sociedade a refletir sobre o racismo que motiva essa violação de direitos”, explica a secretária. “É extremamente importante que o Estado se posicione quanto a essa questão, pois os negros no Brasil sobreviveram graças a essa cosmovisão preservada pelas culturas tradicionais”, ressaltou.
Já Mãe Lúcia de Oyá avalia que o tratamento dado às tradições de matriz africana é discriminatório e tem caráter de satanização. “É um desrespeito aos direitos humanos. Somando a isso o fato de sermos negros, a situação piora”, completou. Para o deputado federal Edson Santos, o Estado deve ser cobrado cada vez que deixar de garantir o direito ao culto religioso, já que é seu papel fazê-lo. “O Estado tem ferramentas para coibir ações que desrespeitem as religiões de matriz africana e deve agir quando um segmento está em desigualdade, independente da religião professada pelo gestor público. Se não agir, o gestor está violando a lei e incorrendo em crime de responsabilidade”, enfatizou o parlamentar.
Discriminação
Para o sacerdote da Tradição Yorubá, Paulo César Pereira de Oliveira, a questão vai além da intolerância religiosa e configura discriminação racial. “A gênese do racismo surge no momento em que o ser humano africano foi ‘coisificado’, tendo sua cultura e valores negados. E as práticas tradicionais são expressões dessa africanidade negada desde a época dos missionários”, explicou o sacerdote. Segundo ele, esse debate avançará politicamente quando o desrespeito passar a ser tratado como crime de racismo.
Apostar na educação para enfrentar esse quadro é uma possibilidade estratégica sugerida pelo Diretor-Geral da Escola de Filosofia e Teologia Afrocentrada, Jayro Pereira. “Devemos pensar num processo pedagógico que desconstrua o imaginário maniqueísta, que divide o mundo entre o bem e o mal e que fundamenta a intolerância. Uma nova pedagogia que esteja tanto nos terreiros, como nas escolas e que permita uma nova visão de mundo”, disse.
O seminário foi realizado pela parceria da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Terreiro, Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial e em Defesa dos Quilombos, com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), dentro da programação do Mês da Consciência Negra. Na abertura do evento, foi exibido o documentário de Carlos Pronzato e Stéfano Barbi, “Até Oxalá vai à guerra”, sobre ações violentas executadas pela Prefeitura de Salvador através da demolição do Terreiro Oyá Onipo Neto.
Para Silvany Euclênio o racismo motiva a violação de direitos. |
De acordo com a secretária de Políticas para as Comunidades Tradicionais da SEPPIR, Silvany Euclênio, o seminário foi motivado pelo aumento da violência contra as tradições africanas no Brasil. “Essa violência é expressa pela agressão a lideranças, depredação de casas, ações contra práticas alimentares tradicionais, entre outros atos. Um encontro como esse é necessário para levar a sociedade a refletir sobre o racismo que motiva essa violação de direitos”, explica a secretária. “É extremamente importante que o Estado se posicione quanto a essa questão, pois os negros no Brasil sobreviveram graças a essa cosmovisão preservada pelas culturas tradicionais”, ressaltou.
Já Mãe Lúcia de Oyá avalia que o tratamento dado às tradições de matriz africana é discriminatório e tem caráter de satanização. “É um desrespeito aos direitos humanos. Somando a isso o fato de sermos negros, a situação piora”, completou. Para o deputado federal Edson Santos, o Estado deve ser cobrado cada vez que deixar de garantir o direito ao culto religioso, já que é seu papel fazê-lo. “O Estado tem ferramentas para coibir ações que desrespeitem as religiões de matriz africana e deve agir quando um segmento está em desigualdade, independente da religião professada pelo gestor público. Se não agir, o gestor está violando a lei e incorrendo em crime de responsabilidade”, enfatizou o parlamentar.
Mãe Lúcia de Oya, foi uma das conferencistas. |
Discriminação
Para o sacerdote da Tradição Yorubá, Paulo César Pereira de Oliveira, a questão vai além da intolerância religiosa e configura discriminação racial. “A gênese do racismo surge no momento em que o ser humano africano foi ‘coisificado’, tendo sua cultura e valores negados. E as práticas tradicionais são expressões dessa africanidade negada desde a época dos missionários”, explicou o sacerdote. Segundo ele, esse debate avançará politicamente quando o desrespeito passar a ser tratado como crime de racismo.
Apostar na educação para enfrentar esse quadro é uma possibilidade estratégica sugerida pelo Diretor-Geral da Escola de Filosofia e Teologia Afrocentrada, Jayro Pereira. “Devemos pensar num processo pedagógico que desconstrua o imaginário maniqueísta, que divide o mundo entre o bem e o mal e que fundamenta a intolerância. Uma nova pedagogia que esteja tanto nos terreiros, como nas escolas e que permita uma nova visão de mundo”, disse.
Kota Mulanji,defendeu as tradições alimentares dos povos de terreiro. |
O seminário foi realizado pela parceria da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Terreiro, Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial e em Defesa dos Quilombos, com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), dentro da programação do Mês da Consciência Negra. Na abertura do evento, foi exibido o documentário de Carlos Pronzato e Stéfano Barbi, “Até Oxalá vai à guerra”, sobre ações violentas executadas pela Prefeitura de Salvador através da demolição do Terreiro Oyá Onipo Neto.
E neste link, a notícia publicada no site da Câmara dos Deputados
Debatedores querem políticas para combater ataque a terreiros
Discutir formas de acabar com a discriminação e ataques contra os terreiros tradicionais de matriz africana foi tema de seminário realizado nesta quinta-feira na Câmara.
A presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Tradicionais de Terreiro,
deputada Erika Kokay (PT-DF), destacou que eventos como esse são importantes para dar visibilidade aos terreiros e à realidade daqueles que seguem religiões africanas.
Em julho deste ano nove casas de matriz africana foram depredadas em Pernambuco.
Assédio religioso
Segundo Mãe Lúcia de Oxum, yalorixá do Centro de Cultura Afro-Brasileiro Ilê Axé Omidewá, em João Pessoa, na Paraíba, os ataques são constantes e ocorrem em todo o País. Ela classificou como assédio religioso os ataques sofridos diariamente pelos terreiros. Lúcia de Oxum pede mais rigor da Justiça para punir os envolvidos. "O máximo que eles entendem é como crime de injúria; e o crime de injúria não dá em nada."
Erika Kokay destacou que a frente vai realizar reuniões com os agentes de direito para que eles possam conhecer a realidade dos terreiros e proteger seus frequentadores. "É preciso que nós trabalhemos no processo de desconstrução de uma intolerância que invade os poderes públicos e que invade o próprio Estado e que faz com que as comunidades de terreiro não possam viver com a dignidade que o País deve a essas comunidades."
A secretária de políticas para comunidades tradicionais, da Secretaria de Promoção de Políticas para Igualdade Racial da Presidência da República, Silvanir Silva, afirmou que o enfrentamento do racismo passa necessariamente pela valorização das tradições africanas e das casas que representam a cultura africana no Brasil. "Nós também estamos muito preocupados em como promover um processo de valorização dessa cultura, dessa tradição, de maneira a desfazer estereótipos que motivam tamanha violência."
Mapeamento
Silvanir informou que no próximo ano o governo vai fazer um levantamento socioeconômico para mapear quantas são e onde estão as casas de tradição de matriz africana em todo o País. A partir daí, o Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos Tradicionais de Matrizes Africanas começará a ser implementado.
Fonte: Agência Câmara de Notícias
Autor: Reportagem - Karla Alessandra, Edição -Regina Céli Assumpção
Fotos: Táta Kinamboji/ Projeto Azuelar - Instituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.
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