sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cinema e Direitos Humanos em debate!


O Cineclube Nangetu em articulação com a rede de cineclubes em terreiros da zona metropolitana de Belém e com o Conselho Nacional de Cineclubes, fez parceria com o Cineclube Café com Direitos Humanos para a realização de duas sessões cineclubistas em comemoração aos 35 anos de fundação da Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos - SDDH.
A programação contou com a presença do cineasta Luís Carlos Alencar, que veio a Belém para participar da exibição de estréia de seus filmes e dos debates sobre eles.
Fragmentos de Mindelo, no auditório da SDDH.

Na sexta-feira 25 de maio teve a exibição no auditório da SDDH, em Nazaré, com a estréia em Belém do filme que Luís Carlos fez com outros cinco realizadores: “Fragmentos de Mindelo” (Cabo Verde, 2011), e esta programação também fez alusão ao Dia Internacional da África com o filme que aborda a vida social e cultural em Mindelo, no Cabo Verde (África), um dos países mais pobres do mundo.
Foi Francisco Weyl, coordenador da PARACINE, quem tomou a palavra ao fim da exibição do “Fragmentos de Mindelo”, ele contextualizou as ilhas vulcânica que formam o arquipélago de Cabo Verde, e fess esse painel à partir de relatos de sua vivência naquele país, seguido pelos relatos da percepção do diretor do filme quando de sua estadia pelas cidades do país. 
A sensação de todos os demais presentes foi a de estar fazendo uma constatação, a constatação de que nós desconhecemos completamente os países africanos, e quando algum desses outros se manifestava havia duas direções possíveis para os discursos – ou indagavam curiosos por tentar compreender as situações retratadas no filme, ou relatavam similaridades do que viram com a cultura brasileira.
Desde o comportamento de Da. Valentina à mesa, até os problemas de moradia da população de baixa renda, tudo de certa forma se parecia com a gente daqui, e ao fim o que se pode dizer é que todos ali receberam uma 'aula' sobre as africanidades em Cabo Verde, aula com gostinho de quero mais.

No sábado 26 de maio foi a vez do Cineclube ARCAXA, que funciona no salão de rituais do Terreiro Nagô de Leko Xapanã de Pai Orlando Bassu, no bairro do Guamá, receber o filme “Bombadeira” - um filme que retrata o universo das transexuais que transformam o corpo com aplicações clandestinas de silicone em outras travestis para feminizar o corpo. O filme traz o debate sobre a questão da identidade de gênero, e esta sessão teve a intenção de colocar em questão para as comunidades de terreiros os diretos da escolha do gênero.
Bombadeira, no cineclube da ARCAXA.

Ainda com uma expressão de espanto, Mametu Nangetu disse que não sabia como eram feitas as aplicações de silicone, e que depois de ver todo o processo percebeu que tem que ter muita convicção do que a pessoa quer para enfrentar tamanha dor em condições tão precárias, e que passou a respeitar mais ainda as travestis e as transexuais.
Assim que encerrou a projeção do filme, Pai Bassu agradeceu a todas as organizações envolvidas na programação e disse que se sentia honrado de poder acolher em sua casa a sessão da rede de cineclubes nos terreiros e a todos os que atenderam ao convite e compareceram ao evento.
A roda de conversa aconteceu na cozinha ao redor da mesa com pratos de camusquim e vatapá especialmente preparados para receber os convidados, e nesse momento Táta Kinamboji (Arthur Leandro), diretor do Conselho Nacional de Cineclubes – CNC, e agitador do GT de Comunidades de Terreiros da PARACINE, provocou as manifestações sobre as identidades de gênero nos terreiros afro-amazônicos. Arthur apresentou o diretor do filme e disse que fez questão de realizar a sessão no cineclube da ARCAXA por ser um dos primeiros terreiros a aceitar a presença de travestis e transexuais em sua comunidade.
Pai Orlando Bassu passou, então a relatar as reações que teve de enfrentar quando acolheu em sua casa a Jalusa Grimaldi para realizar os rituais de iniciação, falou que algumas lideranças de terreiros se referiam à Jalusa como “homem de saia”, e que tentaram até interditar o seu templo religioso. Outros casos que geraram conflitos vieram à pauta do debate, revelando que apesar dos terreiros não discriminarem a diversidade sexual, a questão de gênero ainda parece ser pouco compreendida pelos membros das comunidades.
Para as lideranças de terreiros esse debate está apenas começando, e foi consenso reconhecer a importância de ter conhecido as histórias de transexuais e travestis documentadas no filme do Luís Carlos Alencar, principalmente porque algumas delas são de terreiros e quando relatam as suas escolhas, convicções e as situações que vivenciam, os seus discursos refletem a essência das mitologias e o respeito às religiões afro-brasileiras.
Mametu Nangetu mobilizou a comunidade do seu terreiro e esteve presente com seus filhos nas duas sessões realizadas em espaços de organizações parceiras.

A programação é realizada pela SDDH, em parceria com o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC), com a Federação Paraense de Cineclubes (PARACINE) e com a Rede de Cineclubes em Terreiros da Zona Metropolitana de Belém.

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