O Cineclube Nangetu em articulação
com a rede de cineclubes em terreiros da zona metropolitana de Belém
e com o Conselho Nacional de Cineclubes, fez parceria com o Cineclube
Café com Direitos Humanos para a realização de duas sessões
cineclubistas em comemoração aos 35 anos de fundação da Sociedade
Paraense de Defesa de Direitos Humanos - SDDH.
A programação contou com a presença
do cineasta Luís Carlos Alencar, que veio a Belém para participar
da exibição de estréia de seus filmes e dos debates sobre eles.
Fragmentos de Mindelo, no auditório da SDDH. |
Na sexta-feira 25 de maio teve a
exibição no auditório da SDDH, em Nazaré, com a estréia em Belém
do filme que Luís Carlos fez com outros cinco realizadores:
“Fragmentos de Mindelo” (Cabo Verde, 2011), e esta
programação também fez alusão ao Dia Internacional da África com
o filme que aborda a vida social e cultural em Mindelo, no Cabo Verde
(África), um dos países mais pobres do mundo.
Foi Francisco
Weyl, coordenador da PARACINE, quem tomou a palavra ao fim da
exibição do “Fragmentos de Mindelo”, ele contextualizou as
ilhas vulcânica que formam o arquipélago de Cabo Verde, e fess esse
painel à partir de relatos de sua vivência naquele país, seguido
pelos relatos da percepção do diretor do filme quando de sua
estadia pelas cidades do país.
A sensação de
todos os demais presentes foi a de estar fazendo uma constatação, a
constatação de que nós desconhecemos completamente os países
africanos, e quando algum desses outros se manifestava havia duas
direções possíveis para os discursos – ou indagavam curiosos por
tentar compreender as situações retratadas no filme, ou relatavam
similaridades do que viram com a cultura brasileira.
Desde o
comportamento de Da. Valentina à mesa, até os problemas de moradia
da população de baixa renda, tudo de certa forma se parecia com a
gente daqui, e ao fim o que se pode dizer é que todos ali receberam
uma 'aula' sobre as africanidades em Cabo Verde, aula com gostinho de
quero mais.
No sábado 26 de
maio foi a vez do Cineclube ARCAXA, que funciona no salão de rituais
do Terreiro Nagô de Leko Xapanã de Pai Orlando Bassu, no bairro do
Guamá, receber o filme “Bombadeira” - um filme que
retrata o universo das transexuais que transformam o corpo com
aplicações clandestinas de silicone em outras travestis para
feminizar o corpo. O filme traz o debate sobre a questão da
identidade de gênero, e esta sessão teve a intenção de colocar em
questão para as comunidades de terreiros os diretos da escolha do
gênero.
Bombadeira, no cineclube da ARCAXA. |
Ainda com uma
expressão de espanto, Mametu Nangetu disse que não sabia como eram
feitas as aplicações de silicone, e que depois de ver todo o
processo percebeu que tem que ter muita convicção do que a pessoa
quer para enfrentar tamanha dor em condições tão precárias, e que
passou a respeitar mais ainda as travestis e as transexuais.
Assim que encerrou
a projeção do filme, Pai Bassu agradeceu a todas as organizações
envolvidas na programação e disse que se sentia honrado de poder
acolher em sua casa a sessão da rede de cineclubes nos terreiros e a
todos os que atenderam ao convite e compareceram ao evento.
A roda de conversa aconteceu na cozinha
ao redor da mesa com pratos de camusquim e vatapá especialmente
preparados para receber os convidados, e nesse momento Táta
Kinamboji (Arthur Leandro), diretor do Conselho Nacional de
Cineclubes – CNC, e agitador do GT de Comunidades de Terreiros da
PARACINE, provocou as manifestações sobre as identidades de gênero
nos terreiros afro-amazônicos. Arthur apresentou o diretor do filme
e disse que fez questão de realizar a sessão no cineclube da ARCAXA
por ser um dos primeiros terreiros a aceitar a presença de travestis
e transexuais em sua comunidade.
Pai Orlando Bassu passou, então a
relatar as reações que teve de enfrentar quando acolheu em sua casa
a Jalusa Grimaldi para realizar os rituais de iniciação, falou que
algumas lideranças de terreiros se referiam à Jalusa como “homem
de saia”, e que tentaram até interditar o seu templo religioso.
Outros casos que geraram conflitos vieram à pauta do debate,
revelando que apesar dos terreiros não discriminarem a diversidade
sexual, a questão de gênero ainda parece ser pouco compreendida
pelos membros das comunidades.
Para as lideranças de terreiros esse
debate está apenas começando, e foi consenso reconhecer a
importância de ter conhecido as histórias de transexuais e
travestis documentadas no filme do Luís Carlos Alencar,
principalmente porque algumas delas são de terreiros e quando
relatam as suas escolhas, convicções e as situações que
vivenciam, os seus discursos refletem a essência das mitologias e o
respeito às religiões afro-brasileiras.
Mametu Nangetu mobilizou a comunidade
do seu terreiro e esteve presente com seus filhos nas duas sessões
realizadas em espaços de organizações parceiras.
A programação é realizada pela SDDH,
em parceria com o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC),
com a Federação Paraense de Cineclubes (PARACINE) e com a Rede de
Cineclubes em Terreiros da Zona Metropolitana de Belém.
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