segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Vozes de África, somos tão iguais e tão diferentes...


A estréia do programa Vozes de África na webTV Azuelar foi como a abertura de um portal encantado, uma ligação como uma ponte imaginária entre o Brasil e os países do continente africano - dois mundos que, de tão diferentes, parecem muito iguais.

O evento trouxe para o Mansu Nangetu os estudantes da UFPA Nathan Guangu Kabenge, Jeaindrie Bule Mbo e Joseph Kapinga Kande, naturais da República Democrática do Congo, em um encontro que aconteceu na tarde de 9 de novembro através do projeto de extensão universitária Diálogos em Cabana de Caboco, coordenado pelo prof. João Simões Cardoso Filho  da Faculdade de Ciências Sociais da UFPA. Foi uma roda de conversa onde os congoleses puderam apresentar a história e os aspectos físicos de seu país que abriga uma floresta equatorial, como a floresta amazônica, e é tão rico em minério quanto o Pará. E também apresentar aspectos culturais de seu povo formado por mais de duzentas etnias diferentes.
Mametu Nangetu abriu o programa saudando os convidados e celebrando o encontro com uma oração em kimbundo, disse que a comunidade do Mansu esperava ansiosa por este encontro, e explicou que a expectativa era grande por que as pessoas de terreiro tem a consciência de que no Brasil circula muito pouca informação sobre o continente africano, sobre os seus países e sobre o seu povo, e disse que ao mesmo tempo a ansiedade revelava um sentimento comum entre os membros do terreiro: para o terreiro era como se esperasse a visita de um parente distante que há muito tempo não se via.
A comunidade do Mansu preparou uma apresentação de musicas tradicionais de terreiros Bantu, cantaram em línguas africanas, e tudo aconteceu num misto de estranhamento e proximidade, identidades em diferenças de dois mundos muito parecidos, com história e costumes parecidos e que hoje procuram a união depois de cinco séculos em que permaneceram separados.





Prof. João Simões e Mam'etu Nangetu falaram dessa experiência.


Vozes da África começou ARRASANDO.

A palestra aconteceu num espaço do quintal do terreiro, todo preparado para o evento, com cadeira, microfone, e data show. Muito bonito, debaixo de uma árvore de akoko e de cipós de ogbó - que são Sagradas no Continente Africano e portanto também aqui no Brasil. Quando Mãe Nangetu pegou o microfone e começou a abrir o encontro, Vozes de África, as aves do terreiro, galinhas de Angola e patos, começaram a cantar insistentemente, de tal maneira que ninguém pôde deixar de saber de sua presença ali.
Os três alunos congolenses também ficaram profundamente felizes. Estavam em estado de Graça como todos os que assistiram a apresentação preparada por eles, falando da República Democrática do Congo, que abriga, centenas de etnias, e línguas diversas. E carrega consigo uma história, muito dura, dada sua luta após o início da colonização.
Finalmente nós que estávamos ouvindo a palestra soubemos que nossos antepassados escravizados neste território nação que foi construído com a força de trabalho Negra, estiveram em condições de vida muito melhores que aqueles negros que permaneceram em terras do Continente africano, onde os Europeus, promoveram toda sorte de Crueldades, exploração e genocídios.
Ao final do encontro, novamente Mãe Nangetu agradece a todos, e as aves começam a cantar.
Eu acompanhei os alunos e os levei de carro à sua casa em Batista Campos. No caminho eles comentavam emocionados, vocês lembram quando a Mãe Nangetu saiu para fazer um ritual pra chuva parar, pois é a chuva parou mesmo: “Meu bisavô faz isso no Congo, e a chuva para mesmo”. Também comentavam de alguns bolinhos que foram preparados para a O Mukondu (ritual do morto que iria acontecer no terreiro logo após a palestras as 21horas). "Essa é uma comida típica no Congo".
Eles estavam encantados pois que muitas de suas tradições foram encontradas aqui no Terreiro de Mametu Nangetu. Aprendendo a ser africano no Brasil, e retornando aqui às suas origens.
Só temos a agradecer, em nome do Projeto Diálogo em Cabana de Caboco, em nome da UFPA, à Mãe Nangetu, seu espaço Sagrado e locus de salvaguarda de nossas tradições negras.
Só temos a agradecer ao Prof. e Pai Arthur Leandro, por estar à frente do Projeto Azuelar, que deu origem ao Projeto Diálogos em Cabana de Caboco.
Só temos a agradecer todos os filhos/filhas de santos e participantes do terreiro, pela garra, pela força e pela sustentação de nossa brasilidade NEGRA.
EU ESTOU PROFUNDAMENTE SATISFEITO enquanto cientista social e enquanto pessoa por esse dia maravilhoso que vivenciei o ESPAÇO SAGRADO DO TERREIRO.
EU AGRADEÇO TAMBÉM AO ESPAÇO E TODAS AS PLANTAS BICHOS E OBJETOS QUE ALI nos falam do Poder Divino.
AMO VOCÊS,
Prof. João Simões Cardoso Filho



Muito lindo tudo nas nossas vidas.


Sou neta de sinhá Samba Diamongo/ Edite Apolinaria Santana, que foi iniciada pelo fundador do Manso Kupapa Nsaba (Terreiro de Santa Bárbara do Bate Folha) Tatetu Ampumandezu/ Bernardinoda Paixão fica na Mata Escura, Salvador/ Bahia, e fico muito honrada com o fato dos meus irmãos africanos reconhecerem as suas tradições do Congo na nossa casa na Amazônia.
Tudo que se passou naquele dia no Manso foi com permissão da grande senhora Nzumbaranda, e de Kitembo, que nos mostrou que e é um Nkisi vivo.
Salve nós todos.
Sakidila.
Mam’etu Nangetu.





Serviço:
Evento em comemoração ao mês da Consciência Negra no Brasil.
Programa Vozes de África
Instituto Nangetu/ Projeto Azuelar  - Ponto de Mídia Livre.
Comunicação Social Étnica de Caráter Comunitário e Experimental
Informações: 91-32267599 

Apoio: - Coordenação estadual da ARATRAMA - rede [aparelho]-: - Terreiro de Mina Estrela Guia Aldeya di Tupynambá - Projeto: Diálogo em Cabana de Caboco. FCS/UFPA (Coordenação: Prof. Ms. João Simões e Bolsista Luah Sampaio) - Projeto: Muzueri uonene kalunguê (O falador grande não tem razão). FAV e GEAM/ UFPA (Coordenação Prof. Arthur Leandro) - UFPA-PROEX


fotos: Táta Kinamboji, Táta Dianvula, Walter Pinaya, Duda Canto e Isabela do Lago. Projeto Azuelar/ Instituto Nangetu - Ponto de Mídia Livre.

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