terça-feira, 23 de agosto de 2011
"Um dia qualquer", de Líbero Luxardo, provoca o debate sobre racismo e intolerância religiosa.
A sessão faz parte das açõe da rede de cineclubes em terreiros da zona metropolitana de Belém e foi parte da programação em comemoração aos 47 anos da FEUCABEP.
Durante a exibição do filme a platéia, que era formada predominantemente por estudantes universitários, parecia se divertir reconhecendo os lugares usados para locação e comentando as transformações causadas pelo tempo na cidade de Belém.
Táta Kinamboji abriu o debate falando da linguagem e da narrativa cinetográfica, primeiro disse que o Líbero Luxardo era paulista e que veio para Belém à serviço do governo de Magalhães Barata, e que fazia a publicidade e propagando do governo desde meados da década de 1950.
Quanto ao filme, comparou com as experiências do Cinema Novo que aconteciam na mesma época e externou que na sua opinião o filme pouco acrescenta para o cinema brasileiro ou mesmo para estudos de desenvolvimento de estética ou de linguagem regional, mas que por seu caráter publicitário para a cidade de Belém, de mostrar lugares e hábitos da população, tornou-se um importante documento sobre esta cidade, e pediu para ouvir os sacerdotes presentes sobre as cenas do ritual que aparece no filme e que falassem das suas memórias dessa época.
Mãe Emília e Sr. Cruz falaram sobre os sacerdotes que aparecem no filme, contaram estórias e casos de época. Mãe Emília também reclamou, e muito, da forma como a incorporação feminina é mostrada e testemunhou que jamais viu coisa parecida ocorrer dentro de rituais de terreiros. Nesse momento Táta Kinamboji interviu novamente, disse que mesmo que fosse um filme autoral do Líbero Luxardo, ele refletia a visão do governo sobre as culturas afro-amazônicas e que mostrava o Boi-Bumbá como foco de disturbio à ordem pública e as manifestações religiosas de terreiros como lugar de perversão, lembrou do discurso atribuído à Tranca-Rua de que "os homens vão roubar a matar os próprios filhos e as mulheres vão se prostituir".
Acrescentou a importância de estarmos em eterno 'alerta político', e que o espaço quefoi dado para as comunidades de terreiro nesse filme pode ter servido de combustível de valoração de auto-estima para aqueles que apareceram na tela, mas que a forma como foram expostos apenas contribuiu para a manutenção da visão racista e prconceituosa que a elite sempre difundiu. Seguindo no mesmo caminho, a profa. Taíssa Tavernard disse que o filme tinha relação com a fala da Profa. Anaíza Vergolino durante o debate ocorrido na manhã daquele dia, disse que na época em que o filme foi feito os terreiros precisavam pedir autorização de funcionamento na delagacia de costumes e que o filme retratava esse viés de preconceito e discriminação, que parecia um panfleto de legitamação da ação estatal que usava a polícia para reprimir as manifestações religiosas afro-brasileiras.
De todo esse debate, o que ficou evidente foi a necessidade das comunidades de terreiro se apropriarem das tecnologias e da linguagem do audiovisual para o protagonismo na produção de filmes com a visão de mundo das proprias comunidades.
A Rede de Cineclubes em Terreiros da Zona Metropolitana de Belém é uma articulação criada por poroposição do GT de Comunidades Tradicionais de Terreiros da Federação Paraense de Cineclubes - PARACINE, em parceria com a Diretoria Regional Norte do Conselho Nancional de Cineclubes - CNC. Fazem parte da Rede: Cineclube Nangetu, Cineclube ti Bamburucema, Cineclube ACIYOMI, Cineclube ACAOÃ, Cineclube Maristrela (AFAIA), Cineclube Estrela Guia Aldeia de Tupynambá, Cineclube do Turco Jaguarema, Cineclube da ARCAXA, Cineclube da Irmandade de São Benedito (Ananindeua), FEUCABEP, Cineclube do Turco Ricardinho.
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