quarta-feira, 3 de agosto de 2011

5 de agosto, 19h - Musicalidade brasileira em sessão no Cineclube Nangetu.

Maracatu, maracatus.


Filmes

* Guilherme de Brito
André Luiz Sampaio, 2008
* Maracatu, maracatus
Marcelo Gomes, 1995
* Minha viola e eu - Zé Coco do Riachão
Waldir de Pina, 2002
* Moleque de rua
Márcio Ferrari, 1991
* Partido alto
Leon Hirszman, 1982
* Rap, o canto da Ceilândia
Adirley Queirós, 2005

Crítica

Na cadência bonita do cinema
Carlos Alberto Mattos*

Leon Hirszman foi um dos mais devotados documentaristas da cultura popular brasileira nos anos 1960 e 70. Partido Alto é uma de suas joias, filmada com a intimidade de alguém profundamente identificado com o meio. Em sua cadeira de rodas, falando como quem canta, Mestre Candeia ensina como é o samba de partido alto. Em seguida, em almoço regado a birita na casa de Manacéa, arma-se a roda para a sucessão de improvisos no pé e no gogó. Um jovem Paulinho da Viola completa a aula-espetáculo. A câmera segue o fluxo das participações, com poucos cortes e muito respeito por quem está no centro da roda. É um filme explicativo, sim senhor, mas quem dera toda explicação fosse assim, como música para os olhos e cinema para os ouvidos.
Samba de alta patente sai também da inspiração de Guilherme de Brito, frequente parceiro de Nelson Cavaquinho. O venerando poeta (1922-2006) é a estrela de mais um filme-sarau, que se estende de Vila Isabel a cidade de Conservatória (RJ), onde o sarau se transforma em seresta.
Além de ótimas histórias e versos imortais como “Tire o seu sorriso do caminho / que eu quero passar com a minha dor”, somos apresentados à vigorosa obra plástica de Guilherme. O filme de André Sampaio se resolve exemplarmente sem narração nem letreiros, mas apenas por meio de recursos audiovisuais usados com perícia e senso de oportunidade.
Do samba carioca passamos às violadas e rabecadas do mineiro Zé Coco do Riachão (1912-1998), um músico que também fez de tudo com as mãos: violas, carros de boi, rodas d’água. Waldir de Pina dirigiu Minha viola e eu em 2003, investindo na ausência do personagem para retratá-lo de uma maneira muito particular: áudio de falas, poucas fotos, discos e, principalmente, a exuberância sonora e visual do interior de Minas Gerais. O trabalho manual, que tanto caracterizou o célebre violeiro, comparece em suas múltiplas formas e a integração das afinações musicais muito particulares da viola e da rabeca com os sons da natureza é explorada com requintes de invenção.
De Pernambuco vem o já clássico Maracatu, maracatus, de Marcelo Gomes. Misto de documentário e ficção, dramatiza a passagem do maracatu dos canaviais para o carnaval de Recife. A proposta é resgatar a tradição guerreira do folguedo, em simbiose com a modernidade do hip hop. Era bem esse o espírito do movimento que agitava a cultura pernambucana na década de 1990, capitaneado pela lama caótica de Chico Science, presente na trilha sonora.
Nossa viagem rítmica chega a São Paulo com Moleque de Rua (o nobre pacto). O aditivado curta de Márcio Ferrari mostra o que era em 1991 a banda Moleque de Rua, hoje famosa internacionalmente. Nascida na periferia com o propósito de transformar restos em arte, com bateria de latas e xilofone de papelão, a banda de jovens e meninos já fazia um samba-funk da maior qualidade e cheio de ironias sobre a crise urbana.
O ponto final é na cidade-satélite da Ceilândia, para onde a população mais pobre foi assentada depois que a elite de Brasília alojou-se no Plano Piloto. Rap – O canto da Ceilândia, de Adirley Queirós, abre os microfones para quatro rappers, estrelas locais, expressarem sua indignação de fundo social, racial e cultural. O rap surge, assim, em sua mais completa tradução – como um misto de queixa e afirmação, canto e luta, arte e política.

* Crítico e pesquisador de cinema, autor de livros sobre os cineastas Walter Lima
Jr., Eduardo Coutinho, Carla Camurati, Jorge Bodanzky, Maurice Capovilla e
Vladimir Carvalho

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