domingo, 19 de junho de 2011

dia 24 de junho tem "Uma sessão animada!"

Deus é pai, de Allan Sieber

Guerra dos bárbaros, de Júlia Manta

Destinado ao público adulto, este programa reúne dez curtas-metragens de animação e apresenta trabalhos concluídos entre 1988 e 2008, em sete estados do país. Realizados com técnicas diversas — da animação mais tradicional à computação gráfica —, os filmes versam sobre temas sérios como a superação da perda, o despertar sexual, a mortalidade infantil e conflitos étnicos, mas também entretêm com brincadeiras audiovisuais e um curta de explícita paixão pelo cinema. Aproveitando a liberdade inerente à animação, os títulos aqui presentes promovem um mergulho na imaginação do ser humano e tratam de fatos da vida de forma muitas vezes onírica ou até surreal. A amostragem é rica e demonstra o ecletismo da produção brasileira no gênero.

Filmes

* A espera, de Ernesto Solis, 2003.
* Adeus, de Céu D'Ellia, 1988
* De janela para o cinema, de Quiá Rodrigues, 1999
* Deus é pai, de Allan Sieber, 1999
* Espantalho, de Alê Abreu, 1998
* Guerra dos bárbaros, de Júlia Manta, 2001
* O anão que virou gigante, de Marão, 2008
* O Jumento santo e a cidade que se acabou antes de começar, de Leo D e William Paiva, 2007
* O pescador de sonhos, de Igor Pitta Simões, 2006
* Terra, de Sávio Leite, 2008

Crítica
Desenhos de olho nos adultos
Christian Petermann*

Esta seleção de animações brasileiras voltada para o público juvenil e adulto forma um panorama representativo da qualidade de nossa produção na área, variada em forma e conteúdo. O primeiro curta é Guerra dos bárbaros, de Júlia Manta, que usa imagens de impacto para descrever conflitos durante a colonização do Ceará, que resultam no confronto sanguinário entre brancos e nativos. O horror ante a tragédia histórica é mostrado sem reservas.
Extrema delicadeza, por sua vez, marca o belo curta Espantalho, de Alê Abreu. O diretor mescla imagens fixas com animação tradicional para narrar a relação entre uma menina que mora isolada com a avó no meio do cerrado e um espantalho. Sem diálogos, as imagens sugerem o lúdico despertar sensual da garota, com resultado arrebatador, reconhecido por diversos prêmios.
Em seguida vem O pescador de sonhos, coprodução entre Santa Catarina e Portugal dirigida pelo angolano Igor Pitta Simões. O diretor partiu de um poema que escreveu em 1995 e realizou uma animação com imagens fortemente oníricas, sobre um escritor que parte de um universo sombrio em busca de luz e cor; depois de escaladas e quedas pelo espaço, ele redescobre a esperança.
O programa segue com De janela para o cinema, de Quiá Rodrigues, que se transforma num desafio para cinéfilos: quem perceberá o maior número de referências cinematográficas? Em animação stop-motion com bonecos de massa de modelar e maquetes simples, celebridades como Marilyn Monroe, Charles Chaplin e Grande Otelo (como Macunaíma) fazem uma brincadeira que cita dezenas de filmes, a maioria de reconhecimento imediato. A trilha sonora é de Ed Motta.
O jumento santo e a cidade que se acabou antes de começar, de Leo D. E William Paiva, uma animação que utiliza uma interessante mistura de papel e tecido, conta, à moda de um causo de cordel, como o jumento Limoeiro veio à Terra a mando de Deus tentar salvar o homem, depois que este sucumbiu ao capeta durante a criação do mundo. Com texto espirituoso, simplicidade genuína e reverência ao folclore local, é um filme bem animado neste grupo tão variado de curtas.
O programa segue com a comédia desbocada e herege Deus é pai, de Allan Sieber, em que Deus e Jesus estão numa sessão de terapia para soltar todos os ressentimentos acumulados em 2 mil anos. É divertido, desde que o espectador não seja um religioso ortodoxo. O inusitado O anão que virou gigante, de Marão, com animação muito simples, conta a divertida e absurda história do garoto que por anos foi anão e, de uma hora para outra, virou gigante, e como os dois extremos são ruins para a convivência social – apenas para pregar que não é o tamanho que define a pessoa.
Terra, de Sávio Leite, é descrito pelo diretor como “um bang-bang do Terceiro Mundo” e trabalha com colagem de imagens nervosas e riscadas, em estilo street art. Trata-se de um conjunto visual agressivo que defende a liberdade de expressão de qualquer indivíduo – o forte texto em off é narrado pelo ator Paulo Cesar Pereio, que injeta um certo deboche cético à mensagem.
Para aliviar o clima, a próxima animação é uma brincadeira visual de final inesperado: A espera, de Ernesto Solis, mistura animação gráfica com filmagem em fotografia estilizada – desta forma, o ator Enrique Diaz chega a um hotel isolado no meio do nada e, enquanto espera, vê uma lesma gigante e um bando de avestruzes saltitantes; em clima nonsense e com imagens bonitas, a produção termina com a participação do ator Matheus Nachtergaele.
Encerrando o programa, o curta Adeus traz imagens surreais e de pesado simbolismo psicológico, apontando para a morte de milhares de crianças por ano em países subdesenvolvidos a partir de uma criatura assustadora que mora numa privada. Única obra deste programa concluída antes do período da retomada de produção do cinema brasileiro (iniciada por volta de meados dos anos 1990), este é um trabalho pessoal para o realizador Céu D’Ellia, que o dedica à memória da irmã.

* Crítico de cinema atuante há 23 anos, colabora atualmente no Guia da Folha de S.Paulo, na revista Rolling Stonee no programa Todo Seu(TV Gazeta/SP), além de ministrar palestras, cursos e workshops e ser curador do festival Cine MuBE – Vitrine Independente.



Cineclube Nangetu, coordenação: Kota Mazakalanje.
Tv. Pirajá, 1194 – Marco da légua, Belém/PA. 91- 32267599.
Início de cada sessão- 19h. Ao final haverá roda de conversa com a comunidade do Mansu Nangetu.
O Cineclube Nangetu é premiado no Edital Cine Pará Mais Cultura, e conta com a parceria do Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Pará, Secretaria de Estado da Cultura, PARACINE, rede [aparelho]-: e Idade Mídia.
O Instituto Nangetu é Ponto de Mídia Livre/ 2009.

Informações da Programadora Brasil.

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