segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Por uma política pública diferenciada para os Povos Tradicionais na Amazônia.

No sábado passado, dia 11 de agosto, aconteceu um encontro das lideranças dos movimentos sociais negros com a ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Luiza Bairros, e com  Silvany Euclenio Silva da Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais - SECOMT/ SEPPIR. O encontro foi organizado pelo Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará/ CEDENPA e contou com a presença de diversas organizações do movimento negro, com lideranças de terreiros e lideranças quilombolas.
Foi o momento onde as lideranças dos movimentos puderam aprofundar o debate sobre o direto à terra, a qualidade de vida, o racismo e a discriminação racial, e sobre estratégias de ação junto às institutições estaduais e municipais para a aplicação das políticas de igualdade racial no Estado do Pará e em cada um dos seus municípios, foram essas as questões que nortearam este diálogo com a SEPPIR.

Uma pergunta se repetiu entre todos os presentes: como ajir para atender a negritude na Amazônia? Táta Kinamboji (Instituto Nangetu) chegou a comparar a região com um filho bastardo que vê os outros irmãos ganharem presentes sem conseguir acessar as políticas públicas para ter os mesmos direitos dos outros, e criticou que toda a comunicação e apresentação de propostas e projetos no governo Dilma aconteça exclusivamente pela internet quando temos problemas de infra-estrutura de energia elétrica e de comunicação na região. Nilma Bentes avaliou a questão regional e pediu, em nome do CEDENPA, a instalação de um escritório regional da SEPPIR na região norte, disse que somos dois terços do território nacional e que é necessário uma política diferenciada para atender a região.
As lideranças quilombolas pediram rapidez na titulação da terra e denunciaram as pressões que sofem cotidianamente por parte de proprietários de terra que estão em seu entorno, pressões que vem junto com as diretrizes governamentais de incentivos ao agro-negócio.
Falaram também que programas governamentais que não chegam ans comunidades, como o "Luz para todos" que chega até os sítios e fazendas dos proprietários de terra que se beneficiam de incentivos para o agro-negócio mas que dificilmente as comunidades quilombolas são beneficiadas pelo programa, assim como relataram problemas com a rede de ensino e com a rede de saúde em áreas remanescentes de quilombos.

A Ministra explicou que as prefeituras podem acessar verba especial para aplicar na educação e na saúde em comunidades quilombolas, e que muitas das prefeituras, inclusive as paraenses, acessam esses recursos, mas também disse que não há ainda por parte do governo federal. um sistema de avaliação contínua que permita a verificação de que a aplicação desses recursos aconteça mesmo nas áreas quilombolas, e orientou as organizações da sociedade a ocupar os espaços de diálogo: os conselhos e os fóruns municipais e estaduais, e a cobrar que esses recursos sejam aplicados em ações para as quais foram destinados.
Silvany Euclenio aproveitou e informou que acabou de negociar vagas específicas para quilombolas em cada comitê estadual do programa "Luz para todos", e que é o comitê quem define quais são os locais prioritários para a aplicação do programa, disse que essa articulação é recente mas que ainda este ano deveremos ter quilombolas no comitê que define as prioridades estaduais.
A Ministra também ressaltou que o governo federal não faz nada sozinho, que todas as ações precisam de articulaçnao com estados e municípios, e por isso é que vê a necessidade da transformação da SEPPIR em Ministério, porque os estados e municípios repetem a estrutura administrativa federal, e se o governo federal criar o Ministério da Igualdade Racial a tendência é termos em cada estado da federação, e em cada município, uma secretaria responsável pela aplicação dessas políticas de igualdade racial e que com isso é mais .

No caso específico da religiosidade, Mametu Nangetu, Mãe Nalva e Táta Kinamboji relataram os ataques sistemáticos e constantes que se agrarvam em período eleitoral, citaram como exemplo do uso eleitoreiro de preconceitos, como o da matéria veiculada no SBT em rede nacional em 2002 que relacionou o direito à celebração de ritos fúnebres de matrizes africanas com a suposta violação de tumulos em Belém, e continuaram com o deboche que a coluna "Bacana", do jornal "Diário do Pará", promoveu com a candidatura de Pai Gilmar em 2008 e com o vídeo que circulou na internet atacando  a candidatura de Helder Barbalho em Ananindeua, também em 2008, e promoveu o candidato do PSDB àquela prefeitura com a demonizaçnao do candidato do PMDB que havia feito uma reunião para ouvir as comunidades e povos de terreiros daquele municipio.
Byany Sanches continuou dizendo que o prefeito de Belém desmontou o Conselho Municipal de Negras e Negros e que a política do PSDB no governo estadual também está deixando o Conselho Esatual de Promoção da Igualdae Racial inoperante, e que com o poder municipal e estadual nas mãos de partidos políticos intolerantes com a religiosidade afro-brasileira e indiferentes aos casos de discriminação e racismo, as organizações do movimento negro não conseguem acessar as instituições públicas sequer para registrar os casos que ocorrem neste estado. E Janaina Oliveira acrescentou os casos de discriminação por orientação sexual, que quando acontecem com a juventude negra, trazem em si o agravante do racismo.

Como forma de reverter esta situação no estado do Pará, Luiza Bairros disse que a gente precisa criar redes de proteção com a participação da sociedade civil, das Polícias Civil e Militar, da Defensoria Pública, do Ministério Público Estadual, da OAB e outras instituições pra não ficarmos correndo atrás de advogados amigos a cada vez que ocorrer um caso de racismo e de intolerância religiosa E propôs ajudar a construir um seminário que reúna os atores das institutições e os movimentos sociais para ajudar o estado do Pará a criar uma 'agência' com a articulação que envolva todos na defesa e na proteção das vitimas do racismo. Luiza ainda acrescentou que só é possível criar a cultura do racismo como crime na medida que as vítimas insistam nas denuncias dos casos e provoquem o sistema criminal a se pronunciar sobre isso. Os movimentos sociais presentes se dispuseram então a encaminhar documento para a SEPPIR solicitando essa articulação para provocar uma parceria com o governo do Pará e com os municipios paraenses para que esse evento ocorra.



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