domingo, 29 de julho de 2012

Para lembrar os tempos da Atlantida!



A sessão com o filme "Nem Sansão, nem Dalia", de Carlos Manga, provocou a memória de quem viveu a época de ouro da Atlântida. Ninguém esperou o filme acabar pro debate acontecer, em meio a gargalhadas e comentários sobre cada cena do filme, Mametu Nangetu e Mametu Kutemoji narraram também as memórias do que era ir pro cinema na época que haviam cinema nos bairros...

Foto de Táta Kamelemba/ Projeto Azuelar - Instituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.

Cineclube Nangetu participou de sessão experimental com professores em Tucuruí.



Sessão lotada para ver cinema brasileiro em Tucuruí.
 A sessão foi uma experiência proposta pelo cineclubista Arthur Leandro (Táta Kinamboji) e aconteceu na Escola Municipal de Ensino Fundamental Maestro João Leite, em Tucurui. Arthur explicou que foi uma sessão experimental promovida pela turma de formação de professores em Artes Visuais do Pólo da UFPA em Tucuruí, em parceria com a Federação Paraense de Cineclubes/ PARACINE, com a diretoria norte do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros - CNC; com a rede [aparelho]-: e com o Cineclube Nangetu - que foi quem forneceu os filmes para a mostra.
"A onda - festa na pororoca" abriu a sessão com animação paraense.
Antes da sessão a comunidade universitária exibiu os vídeos de depoimentos de professores da UFPA sobre a GREVE nas IFES, e aproveitou a mobilização para o evento cultural para informar a população e buscar apoio para a luta do ANDES-SN por melhores condições de trabalho docente, carreira digna aos professores universitários e mais investimentos para as universidades na Amazônia.
A programação de filmes foi pensada por um conselho editorial formado por professores e cineclubistas, e contou com filmes destinados a 3 faixas etárias diferentes\; filmes para crianças até 10 anos, filmes para jovens até 17 anos e filmes para adultos. A linha editorial da mostra primou pela DIVERSIDADE, a diversidade cultural, social, racial e sexual, na tentativa de estabelecer debates sobre respeito e convivência humana respeitosa numa sociedade multicultural como a sociedade brasileira.
A professora Sheila Moura falou da proposta em nome dos organizadores.
A apresentação do evento coube ao prof. Jessé, coordenador do Programa de Formação de Professores no campus da UFPA em Tucuruí, que falou da proposta como um evento de extensão da UFPA que tem como objetivo mobilizar os professores da rede pública de ensino para a implantação de cineclubes nas escolas da região. A resposta para a proposta foi a presença de professores dos municípios de Tucuruí, Breu Branco, Novo Repartimento, Mocajuba, Baião e Altamira, todos interessados em desenvolver atividades em, suas escolas para que se tornem cineclubes e contribuam com a formação, produção e difusão do cinema brasileiro em cada um dos municípios ali presentes, aém da comunidade atendida pela escola Maestro João Leite que compareceu com mais de 100 pessoas que vieram participar da sessão.
"Gilda e Gilberto" provocou reflexões sobre afeto e amizade entre as diferenças.
"O moleque" trouxe debate sobre amizade e relações étnico-raciais no Brasil.
"Dona Carmela" despertou comentários sobre envelhecimento e respeito aos idosos.
"Ernesto no país do futebol" provocou o debate do esporte como fator de promoção da paz e convivência pacífica.

Os filmes exibidos foram: 1. O onda – festa na pororoca; 2.Minhocas; 3.O veado e a onça; 4.Calango; 5.Gilda e Gilberto; 6.Taina-Kan – a grande estrela 7.Dona Carmela; 8.O moleque; 9.São João do carneirinho; 10.Uma jangada chamada Bruna 11.Ernesto no país do futebol 12.Eu não quero voltar sozinho 13.Quanto vale ou é por quilo.
"Eu não quero voltar sozinho"

A sessão foi longa, afinal foram 3 sessões numa única noite, e apesar do cansaço também foi gratificante parta todos os que promoveram o evento, principalmente pelo interesse dos professores em montarem projetos cineclubistas e  o interesse de gestores municipais em financiar o cineclubismo para escolas públicas.

"Quanto vale ou é por quilo" colocou em debate racismo e relações de poder na sociedade brasileira.


Esses rituais pareciam mais com os do espiritismo!

A sessão fez parte da programação do mês de julho do Cineclube Nangetu, e trouxe para a Cineclube os membros da comunidade que ficaram em Belém no período das férias escolares, eles vieram em busca de um outro tipo de diversão, é o cinema como entretenimento e educação.
Durante a exibição do filme todos riam das situações apresentadas no enredo do “O jeca e a égua milagrosa”, riam das frases de duplo sentido e das situações de comédia de costumes. Entretanto ao iniciar a roda de conversa Mametu Kutemoji disse logo: 'isso mais parece espiritismo do que religiões afro-brasileiras”, disse que desconhecia o que chamavam de Umbanda em São Paulo mas que tinha estranhado que todo o enredo do filme se baseava na comunicação com espírito de pessoas falecidas ao invés de se basear no culto aos Nkisis ou mesmo ao culto aos cabocos e encantarias.
A concordância com o observação de Mametu Kutemoji foi geral, e para os presentes também ficou evidente que essa confusão é fruto do desconhecimento da sociedade sobre as práticas religiosas afro-brasileiras, porém nenhum dos presentes se sentiu ofendido com o enredo do filme.
Tata Kinamboji propôs a reflexão sobre a relação da religião com a política, e lembrou que  no filme os dois candidatos à prefeitura municipal eram apresentados como “Pais de santo”, e frisou as aspas em sua frase. Foi assim que  a roda de conversa passou a analisar os perigos do uso do misticismo e o fanatismo religioso na política, e vários exemplos do fundamentalismo cristão foram citados nesse debate.
A mensagem que ficou como conclusão foi a necessidade de termos cuidado quando no apoio e participação na gestão de candidatos, mesmo os candidatos oriundos de terreiros, para que a nossa participação política na sociedade se reflita em ações de valorização de identidade dos terreiros e em ações de garantia de Direitos Humanos e Cidadania para toda a população. Para isso também é necessário ampliar a participação dos Povos de Terreiro na política participativa, investindo  nas instâncias de diálogo do poder público com a sociedade civil, ou seja: nos conselhos constituídos.

Texto e fotos de Táta Kinamboji/ Projeto Azuelar - Instituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Queremos a natureza viva! Conhecimentos tradicionais, reciclagem e meio ambiente em vídeo educativo.

Comunidadde do Mansu Nangetu e pesquisadores do GEAAM/ UFPA em filmagem nas matas da CEASA em Belém.

A comunidade do Mansu Nangetu, em parceria com com pesquisadores do GEAAM/UFPA, estão em processo de realização de um vídeo com os conhecimentos tradicionais em favor da educação ambiental.
A proposta de parceria partiu dos pesquisadores Alessandro Ricardo Campos, Kátia Simone Araújo, Johny Numor e Renato Trindade, eles chegaram com a proposta de utilizar as práticas rituais e os conhecimentos tradicionais do terreiro para construir um vídeo que mostre os mecanismos cotidianos de educação para a preservação do meio ambiente desenvolvidos no Mansu Nangetu.
O vídeo tem a finalidade de se tornar um recurso didático para o ensino básico e será apresentado para avaliação de banca no Grupo de Estudos Afro-amazônico do IFCH/ UFPA, pois faz parte da monografia de conclusão de curso de especialização em “Saberes Africanos e Afro-brasileiros na Amazônia – Implantação da Lei 10.629/03”, monografia que é desenvolvida sob a orientação do Prof. Arthur Leandro - oTáta Kinamboji.
A proposta resultou em uma realização em parceria com o Projeto Azuelar, aproveitando os investimentos do Mansu Nangetu no audiovisual que colocou a equipe do projeto nessa produção em pé de igualdade com os pesquisadores - é um vídeo conjunto. As filmagens aconteceram de 19 de junho a 17 de julho, em locações no Mansu Nangetu e na área da mata da CEASA – que fica à 10 minutos do terreiro e ee tradicionalmente utilizada nos rituais da comunidade–, e retratam dois momentos que os pesquisadores consideraram importante de levar para os estudantes e professores de ensino fundamental e médio como exemplo de conhecimento afro-amazônico a ser trabalhado nas escola. São eles: a construção de recipientes com material reciclável e os cuidados com os espaços de mata e igarapés nas oferendas com material biodegradável realizadas para os Nkisis e Cabocos.
A Agenda 21 da Cultura já aponta que existem claras analogias políticas entre as questões culturais eecológicas, pois tanto a cultura como o meio ambiente são bens comuns da humanidade, e assim a preservação do meio ambiente também se relaciona com a diversidade cultural e a preservação dos conhecimentos tradicionais. A pesquisa do grupo aponta para a estreita relação entre o cotidiano do terreiro e a preservação do meio ambiente.

Equipe do Projeto Azuelar fazendo filmagens na mata da CEASA.



Mametu Nangetu conduzindo a comunidade para o melhor lugar para oferendas.
Pesquisadores gravando depoimentos da comunidade.
Equipe de produção durante as filmagens.

Da experiência para a consciência político-social.



Logo que se acendeu as luzes, Táta Kinamboji perguntou para os presentes: 'vocês estavam torcendo pro João Bala, né?!' Um burburinho tomou conta do salão e novamente veio a pergunta ' se a grande maioria aqui presente tem medo de ser vítima de violência de grupos de jovens de periferia e dos chamados “meninos de rua”, como ao fim desse filme estão todos comovidos com a história do João Bala? E foi essa a provocação que deu impulso para a roda de conversa.
Daí em diante Mametu Deumbanda comandou a roda de conversa, disse em tom reflexivo que tinha de reconhecer que na maioria das vezes a gente critica sem saber da história 'do outro', e que nada garantia que as manchetes de jornal, que tanto influenciam nos nossos medos de pessoas diferentes, não escondessem histórias de solidariedade e resistência como essa do filme. Para ela o momento mais emocionante foi quando ele arriscou ser pego pela polícia para ajudar o povo do terreiro a recuperar o assentamento de Ogum.
Kinamboji disse que o que destaca nessa estória é como a experiência com golpes e pequenos furtos de um grupo de jovens vai gradativamente se tornando consciência e luta política, que na narrativa de Jorge Amado parece ser possível identificar o momento em que cada um dos personagens se dá conta de seu papel nas lutas sociais – situação que se torna evidente quando o “professor” especula sobre o futuro das personagens -, e que é essa a mensagem que ele gostaria que cada um da comunidade do Mansu Nangetu tivesse como exemplo, que projetassem para o futuro o seu papel político-social.

Texto e fotos de Táta Kinamboji/ Projeto Azuelar – Instituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.

Mametu Nangetu pretigiou os ritos de Oxalá no Ilê Axé Babá Abuke.

Mametu Nangetu com Pai Carlinhos de Oxum (à direita), Babá Edson Catendê, Babá Serginho de Ogum e o Ogã do Ilê Axé Iyá Omi Ofá Kare.

Mametu Nangetu esteve no Candomblé de Mãe Matilde de Oxalá no Ilê Axé Babá Abukê. O ritual esteve na responsabilidade de pai Carlinhos de Oxum e a teve presença de lideranças de terreiros da maior importância para Belém do Pará. Todos foram prestigiar os rituais de Mãe Matilde, sacerdotisa que em sua trajetória conquistou o afeto do povo de terreiro em Belém.

Oxaguiã de Mãe Matilde dançando em sua festa.
O Ilê Axé babá Abukê lotou para a celebração religiosa em louvor de Oxalá.

Nangetu, de Alcyr Morrison, e as produções audiovisuais do terreiro.


Fizemos uma sessão especial com um filme que é produro do Instituto Nangetu em parceria com o Instituto de Estudos Superiores da Amazônia - IESAM.
O filme é fruto de um projeto de extensão universitária do prof. Alcyr Morrison (Alcyr de Katende) que também é membro da comunidade do Mansu, e que através de depoimentos dos sacerdotes e amigos de Mametu vai construindo a narrativa de 25 anos de história deste terreiro de Candomblé Angola.
A maioria dos presentes tecia comentários sobre as mudanças que o tempo provocou nas pessoas e no lugar, e ao fim Mametu provocou a comunidade para a realização de um filme de ficcção.


Texto e fotos de Táta Kamelembá/ Projeto Azuelar - Instituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A juventude do terreiro e a paixão pelos folguedos juninos.


Quadrilha de "Santa Luzia" ganhou o concurso promovido pelo Governo do Pará em 2012. 


Tal qual o carnaval, o mês de junho também mobiliza a comunidade do Mansu Nangetu para os folguedos populares. São as festas dos santos juninos que fazem a juventude do terreiro passar quase três meses ensaiando coreografias para as apresentações. Muller de Nazaze diz que começaram a ensaiar no mês de março e que tanta dedicação é pra fazer bonito no mês de junho.
Juventude jurunense mantém viva as tradições
juninas na quadrilha "Santa Luzia".


Para dançar no mês de junho, a comunidade do Mansu Nangetu se divide em duas qadrilas, a “Arrastão junino” da Cidade Velha, que é comandada por Venina Santos e tem Brenda Yasmim como Miss Caipira, e a “Santa Luzia” do Jurunas, onde dançam Táta Kamelemba, Müller de Nzaze, e Andréia de Dandalunda.


Táta Kamelembá conta que desde criança dançava em quadrilha, diz que era a sua mãe que lhe levava para dançar no bairro do Jurunas, “foi aos 9 anos que comecei a dançar quadrilha para as festividades dos santos juninos, se chamava “Pimpolhos na roça”, uma quadrilha só de crianças que se apresentava apenas naquele bairro. Depois passei a integrar o”Grupo Junino Quadrilha Santa Luzia”, grupo que permaneço até hoje e além de dançar, também faço a produção do grupo e executo o projeto de figurino e adereços”.
Müller de Nzaze, Mônica e Táta Kamelembá
na quadrilha de Santa Luzia.
Para fazer a 'festa acontecer' eles contam que os vizinhos ajudam na mobilização de cada bairro para juntar dinheiro pros grupos se apresentarem. São os vizinhos que ajudam em rifas e bingos, que emprestam aparelhos de som para as festas de arrecadação do dinheiro que é usado para montar os figurinos. As roupas dos figurinos são guardadas e ajudam também na arrecadação para o compor o figurino do ano seguinte, pois ao fim da 'quadra junina' elas são alugadas ou vendidas para outros grupos.
As quadrilhas dançam em um extenso calendário de concursos promovidos por prefeituras municipais, clubes, Igrejas e Agremiações Carnavalescas. O concurso da Prefeitura Municipal de Belém acontece na Praça Waldemar Henrique, o do Governo do Estado na Praça do Povo (CENTUR), mas ainda tem o concurso intermunicipal de Ananindeua e este ano as quadrilhas ainda foram disputar o título do concurso intermunicipal em Tracuateua, na zona bragantina. E nos concursos promovidos pelo Rancho não Posso me Amofiná e do terreiro do Pai Reginaldo Lopes, além de apresentações em diversas festas juninas espalhadas pela zona metropolitana de Belém.
Quadrilha "Arrastão junino", da Cidade Velha, dançou para Santo Onofre no Mansu Nangetu.
E para a alegria e orgulho do Mansu Nangetu, a quadrilha “Arrastão junino” ganhou o concurso promovido pelo Terreiro de Pai Reginaldo Lopes, e a “Santa Luzia” arrebatou o título no concurso promovido pelo Governo do Estado do Pará.

"Arrastão junino" em sua apresentação no Mansu Nangetu.

Quadrilha "Arrastão junino" fez a alegria da população no bairro do Marco no dia de Santo Onofre.
Texto de Táta Kinamboji/ Projeto Azuelar - Instituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.
Fotos de Táta Kinamboji/ Luah Sampaio (UFPA - Projeto Diálogos em Cabana de Caboco)/ e acervo das quadrilhas "Santa Luzia" e "Arrastão junino"

domingo, 15 de julho de 2012

Comédias da Atlantida encerram programação de férias no Cineclube Nangetu.

Durante o mês de julho o Cineclube Nangetu exibe filmes especialmente para o entretenimento no período de férias escolares, o princípio da programação de férias é a diretriz "CINEMA NÃO É SÓ DIVERSÃO"...

Nem Sansão nem Dalila (1954), é um filme brasileiro estrelado por Oscarito, dirigido por Carlos Manga.

Sinopse: Por intermédio de uma máquina do tempo apresentada numa conferência científica, um humilde barbeiro é transportado para uma "época antes de Cristo" na qual se torna o poderoso Sansão às voltas com as manobras de poder dos políticos locais que procuram, por meio da sedutora Dalila, arrancar-lhe as forças.


Quanto mais Manga melhor (2007)

Sinopse: Documentário em vídeo sobre a direção de atores de Carlos Manga nos filmes da Atlântida Cinematográfica desde a década de 50 até 70, com depoimentos do próprio Manga, e de atores consagrados da época e de hoje.
Cineclube Nangetu.
Sexta, 27 de julho de 2012. 19h.

Tv. Pirajá, 1194 - Marco da légua.
Belém do Grão-Pará.
CEP 66.095-631
Fones: (91)32267599; (91) 88067351 (Mametu Nangetu).

Cineclube Nangetu recebeu visita da Programadora Brasil.


Mametu Nangetu contando a experiência cineclubista para Leandro Batista e Carlos Alberto Mattos da Programadora Brasil.

Foi uma sessão especial, especial porque o Cineclube Nangetu recebeu neste dia uma equipe da Programadora Brasil que veio a Belém vivenciar o uso dos filmes da Programadora Brasil nas atividades de Cineclubes que destacam pela atuação como exibidores dos filmes do catálogo da Programadora. E essa visita para conviver conosco durante a preparação e realização da sessão foi festejada por toda a comunidade.
Mametu Nangetu chamou os coordenadores do cineclube e o conselho editorial e pediu que mobilizassem as organizações parceiras para vir participar da sessão e ela mesma mobilizou a comunidade do terreiro para que a comunidade participasse desse momento.
A cozinha ficou na responsabilidade de Mametu Deumbanda, que coordenou a equipe que preparou bolo do milho, pipoca e cachorro quente para os convidados. Com tudo pronto para o inicio dos filmes, baixou-se a tela para a sessão com casa lotada e o cesto de pipoca passando de mão em mão...
Representantes de várias organizações sociais prestigiaram o evento e contribuíram com o debate ao fim do filme, dentre os presentes estavam a advogada Celi Abdoral, da Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos/ SDDH (Cineclube Café com Direitos Humanos), e o sociólogo Domingos Conceição, do Movimento Afro-descendente MOCAMBO, e lideranças de terreiros, como Tatetu Kalengunzo, do Mansu Axé Citacura, e também dos que fazem parte da Rede de Cineclubes em Terreiros da Zona Metropolitana de Belém (Federação Paraense de Cineclubes/ PARACINE), Tatetu Dianga Moxi (Pai Esmael Tavares), do Terreiro Estrela Guia (Cineclube Estrela Guia), e Mametu Kátia Hadad, do Abassá Afro-Brasileiro Konsenzala de Kafungê (Cineclube Konsenzala).
Tata Kinamboji e Táta Dianvula assistiram o filme da área para fumantes.
Ao fim da exibição, se reorganizou o espaço do terreiro numa grande roda para a conversa sobre cineclubismo nos terreiros e os filmes da sessão. Foi Mametu Nangetu quem iniciou o debate,e começou agradecendo a presença dos membros da comunidade, das organizações parceiras e de todos os que vieram na programação do cineclube, disse que esta era uma noite especial em que o cineclube recebia a equipe da Programadora Brasil formada pelo Leandro Batista e o Carlos Alberto Mattos, e que esperava que a conversa fosse proveitosa para todos ali presentes.
Mametu continuou falando da experiência cineclubista e da importância do cineclube para o Mansu Nangetu, e disse que o cineclube havia se tornado uma eficiente ferramenta de combate ao racismo pelo viés da intolerância religiosa,Pai Esmael acrescentou que é o interesse da juventude de seu terreiro que mantém a atividade cineclubista, e contou orgulhoso que seus netos já fizeram até oficinas em audiovisual e que já estão fazendo pequenos filmes em seu terreiro.
Celi Abdora, (em primeiro plano) falou das redes e das parcerias do cineclube.
Celi Abdoral avaliou a articulação dos cineclubes dos terreiros e disse que essa rede se expandiu em novas fronteiras e com outras instituições, citou a parceira com o cineclube “Café com direitos humanos” (SDDH) e a discussão da transexualidade nos terreiros que foi provocada pelo filme Bombadeira, do Luís Carlos Alencar, em maio passado,... Disse que algumas coisas eram importante de ressaltar nessa articulação potencializada pelo Instituto Nangetu e encampada pela PARACINE e o Conselho Nacional de Cineclubes - CNC, uma delas é que pela localização dos terreiros em bairros periféricos a rede espalha o acesso aos conteúdos culturais e cria situações muito próxima daquilo que chamamos de democratização do audiovisual, pois atende as camadas mais pobres da população e acontece em áreas desprovidas de equipamentos culturais.Continuou contando da sessão realizada nessa parceria com a SDDH no Cineclube da ARCAXA, e que a divulgação da sessão para discutir Direitos Humanos nos jornais e outros veículos de informação acabou por levar um grupo significativo de advogados para um contexto desconhecido da maioria dos praticantes da profissão – um terreiro e no “olho do Guamá”...
E aproveitando a 'deixa' da memória do Bombadeira, Celi apontou questões de gênero e a representação dos papeis sociais de gênero que foi expressa na “A saga do guerreiro alumioso”.... Ela chamou a atenção para detalhes como, em principio, mulher não senta à mesa para discussão política e que a mulher estava o tempo todo no espaço doméstico: na cozinha. A divisão sexual do trabalho, inclusive a divisão de gênero nos trabalhos ritualísticos das religiões afro-brasileiras tomou conta da conversa, e Celi comparou a situação retratada com a participação da mulher nas lutas sociais na Amazônia, um lugar onde as mulheres são lideranças políticas inclusive na luta pelo direito à terra.
Domingos Conceição durante a roda de conversa.
Nesse momento Domingos Conceição relacionou os conflitos de terra e o coronelato nordestino com a grilagem de terra e a luta pelo direito à terra na Amazônia, mas também trouxe a discussão sobre a religiosidade expressa no filme e sem saber direito quais eram aqueles cultos, disse que percebia traços da religiosidade afro-brasileira naqueles rituais.
Carlos Alberto Mattos disse que em recente divulgação de pesquisa, o Pará foi considerado como um dos estados mais católicos do Brasil. Mametu Nangetu retrucou argumentando sobre a negação do IBGE em contabilizar a população dos terreiros no censo de 2010, disse que coordenou a pesquisa de dois mapeamentos de terreiros e que estima que somos 10% da população brasileira. Táta Kinamboji colocou em dúvida os dados estatísticos, apontou para o Táta Kitauanje e disse “esta aqui o diretor da festa de São Benedito – Igreja do Jurunas – e ele é sacerdote de terreiro”, em seguida apontou para Pai Esmael Tavares e disse que era ele quem fazia a procissão de São Sebastião na Cidade Velha, e que o finado João de Guapindaia, renomado lider de terreiro do bairro da Pedreira, acompanhava o Círio “pregado” na berlinda de N. Sra. de Nazaré. Contou, ainda, que quando foi fotografar na procissão de N. Senhor dos Passos na sexta feira santa de 2010 teve a grata surpresa de perceber que numa procissão pequena, com pouco mais de 300 pessoas, a maioria dos devotos naquela procissão era composta de irmãos de terreiros, mas, enfim, as pesquisas que apontam o alto percentual da população católica não aceitam a dupla identidade, e que, ao fim, os dados não refletem a realidade....
Leandro Batista parabenizou a todos que fazem o cineclube acontecer.
Leandro Batista pediu a palavra e registrou que estava na sessão para conhecer o trabalho do cineclube, trabalho que foi reconhecido pela Programadora Brasil como de um cineclube que se destaca em suas atividades, assim esse trabalho despertou o interesse da equipe da Programadora Brasil em conversar com os coordenadores e freqüentadores do Cineclube Nangetu para melhorar a relação entre as instituições e estreitar a relação entre a fornecedora de filmes e seu público. Por fim, declarou seu contentamento com o que presenciou e parabenizou a todos por fazerem o cineclube acontecer.
Antes de finalizar os trabalhos, Mametu Nangetu anunciou que havia trazido algumas camisetas da Pré-jornada Nacional de cineclubes que aconteceu em Santa Maria no Rio Grande do Sul, e promoveu um sorteio entre os que ficaram até o final do debate.
Gracinete Belarosa foi uma das sorteadas da noite.



Texto e fotos de Táta Kinamboji/ Projeto Azuelar - Insitituto Nangetu/ Ponto de Mídia Livre.