O que é ter consciência Negra e principalmente o que é ser
de terreiro?
[Texto de Luash Sampaio,
bolsista do Projeto de Extensão
Diálogos em Cabana de Caboco
FACs/ PROEX/ UFPA.]
Pergunta que nós fizemos nessa noite de quarta-feira,
sentados confortavelmente na cozinha do Mansu. Mametu já explicava sobre os
trabalhos que foram feitos hoje e o que há ainda por fazer na semana em relação
as celebrações religiosas e festas de saídas que acontecerão nas próximos
meses,foi quando nos `aprochegamos` e começou uma conversa muito gostosa na
minha opnião. Na cozinha estavam Tata djanga Muxi, Ode Oromi, alguns ogãns da
casa e uma muzenza(?)Cristina, uma moça e um rapaz jovem que ainda não tinha
visto por ali e que depois se identificaram como membros do projeto-
perguntar pro ode- Além de eu e
Bella,Touro, sentadas em uma roda que transformou-se em uma circularidade de
conhecimentos espontâneos trocados.
Mametu começou a nos apresentar exemplos de tudo o que já se
fez em defesa a sua cultura, comunidade e conhecimento, de toda a guerra perante
esses doutores e juízes `Brancos` que continuam reproduzindo a colonização e o
racismo impedindo de formas covardes que
o reconhecimento de identidade seja bloqueado na construção de ser humano,
impedindo que possa sentir e viver sua comunidade e fazer a sua política, com
outros significados. Lembro com a fala de Mametu do 'Discurso sobre o
colonialismo'(1978) de Aimé cesaire que fala um pouco sobre essa consciência.
A conversa continua e nossos questionamentos sobre o que é
fazer essa resistência, são respondidas com exemplos fortes, como a luta pelo direito
de entrar em cemitérios e realizar oferendas e sobre vitórias regionais em
relação a outras formas de fazer política como trechos que Mametu indica bem
positivo, quando acontecia o orçamento participativo nos bairros. O
entendimento que construirmos na conversa foi justo essa luta não apenas por
direitos públicos, mas, sim por respeito as ancestralidades e as formas
originárias que vão sendo jogadas fora como lixo no meio de tanto consumo
dentro de lógicas capitalistas que mostram não entender o povo de terreiro e
seu tempo específico.
Mametu então resume, de uma maneira que penso que fez todos
entenderem e prestarem atenção na manutenção daquele tipo de troca de
conhecimento que estávamos fazendo ali, ela diz: “ O que percebo depois de todo
esse tempo é que o problema de todas essas novas legislações que conseguimos
com tanta luta, são os gestores e a maneira que as pessoas coordenam...”. O que
ela explica ser um problema dentro de todos nós, cita o egoísmo e a fraqueza
que fazem muitas lideranças e forças que se “bitolam” ao receber cargos e
dinheiro que acabam por desrespeitar a sua própria identidade.
E ainda falando sobre esse outro Tempo do terreiro, Ode
Oromi, que também se coloca presente politicamente representando a juventude de
terreiro, diz sobre o espaço de terreiro não ser apenas o templo de culto e sim
abranger em todos os ritos, discussões, troca de cultura e conhecimento que a comunidade
de terreiro proporciona aqueles que ali estão seja de qualquer forma e qualquer
tipo.
Apresenta essa como sendo uma diferença entre as comunidades
religiosas cristãs em sua maioria e diz o quanto que é necessário ser mantido e
preservado. Com isso tudo e a partir de várias conversas, tenho talvez uma
pergunta que pode até já ter sido respondida, mas que foi o que não tive tempo
de perguntar a todos na cozinha, O que acham sobre o Instituto e o Mansu? Se
diferem, se agrupam, se constroem? O que todos no terreiro pensam sobre? Talvez
essa resposta esteja no ar.
Que nossa consciência continue se ampliando sempre! Muito
obrigada pela conversa.
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