sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O que é ter consciência Negra e principalmente o que é ser de terreiro?

No dia 20 de novembro, o Projeto Kiua Iobe promoveu uma roda de conversa sobre consciência negra para juventude de terreiro. Publicamos aqui um relato sobre essa copnversa.


O que é ter consciência Negra e principalmente o que é ser de terreiro?        
[Texto de Luash Sampaio, 
bolsista do Projeto de Extensão 
Diálogos em Cabana de Caboco 
FACs/ PROEX/ UFPA.]

Pergunta que nós fizemos nessa noite de quarta-feira, sentados confortavelmente na cozinha do Mansu. Mametu já explicava sobre os trabalhos que foram feitos hoje e o que há ainda por fazer na semana em relação as celebrações religiosas e festas de saídas que acontecerão nas próximos meses,foi quando nos `aprochegamos` e começou uma conversa muito gostosa na minha opnião. Na cozinha estavam Tata djanga Muxi, Ode Oromi, alguns ogãns da casa e uma muzenza(?)Cristina, uma moça e um rapaz jovem que ainda não tinha visto por ali e que depois se identificaram como membros do projeto- perguntar pro ode- Além de  eu e Bella,Touro, sentadas em uma roda que transformou-se em uma circularidade de conhecimentos espontâneos trocados.

Mametu começou a nos apresentar exemplos de tudo o que já se fez em defesa a sua cultura, comunidade e conhecimento, de toda a guerra perante esses doutores e juízes `Brancos` que continuam reproduzindo a colonização e o racismo impedindo de formas  covardes que o reconhecimento de identidade seja bloqueado na construção de ser humano, impedindo que possa sentir e viver sua comunidade e fazer a sua política, com outros significados. Lembro com a fala de Mametu do 'Discurso sobre o colonialismo'(1978) de Aimé cesaire que fala um pouco sobre essa consciência.


                                                     
A conversa continua e nossos questionamentos sobre o que é fazer essa resistência, são respondidas com exemplos fortes, como a luta pelo direito de entrar em cemitérios e realizar oferendas e sobre vitórias regionais em relação a outras formas de fazer política como trechos que Mametu indica bem positivo, quando acontecia o orçamento participativo nos bairros. O entendimento que construirmos na conversa foi justo essa luta não apenas por direitos públicos, mas, sim por respeito as ancestralidades e as formas originárias que vão sendo jogadas fora como lixo no meio de tanto consumo dentro de lógicas capitalistas que mostram não entender o povo de terreiro e seu tempo específico.

Mametu então resume, de uma maneira que penso que fez todos entenderem e prestarem atenção na manutenção daquele tipo de troca de conhecimento que estávamos fazendo ali, ela diz: “ O que percebo depois de todo esse tempo é que o problema de todas essas novas legislações que conseguimos com tanta luta, são os gestores e a maneira que as pessoas coordenam...”. O que ela explica ser um problema dentro de todos nós, cita o egoísmo e a fraqueza que fazem muitas lideranças e forças que se “bitolam” ao receber cargos e dinheiro que acabam por desrespeitar a sua própria identidade.

E ainda falando sobre esse outro Tempo do terreiro, Ode Oromi, que também se coloca presente politicamente representando a juventude de terreiro, diz sobre o espaço de terreiro não ser apenas o templo de culto e sim abranger em todos os ritos, discussões, troca de cultura e conhecimento que a comunidade de terreiro proporciona aqueles que ali estão seja de qualquer forma e qualquer tipo.
Apresenta essa como sendo uma diferença entre as comunidades religiosas cristãs em sua maioria e diz o quanto que é necessário ser mantido e preservado. Com isso tudo e a partir de várias conversas, tenho talvez uma pergunta que pode até já ter sido respondida, mas que foi o que não tive tempo de perguntar a todos na cozinha, O que acham sobre o Instituto e o Mansu? Se diferem, se agrupam, se constroem? O que todos no terreiro pensam sobre? Talvez essa resposta esteja no ar.
Que nossa consciência continue se ampliando sempre! Muito obrigada pela conversa.


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