segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Rei Congo e a Cabanagem, roda de conversa com João Lúcio Mazzini da Costa e Mametu Nangetu.

Como parte da celebração do dia Estadual e Municipal da Umbanda e das religiões afro-brasileiras em Belém e no Pará, o Instituto Nangetu promove uma série de rodas de conversas para o mês de março, iniciando com o historiador João Lúcio Mazzini da Costa.

Rei Congo e a Cabanagem.
Conversa com João Lúcio Mazzini da Costa e Mametu Nangetu.
Quinta-feira, 17 de março, a partir das 9:30.
Mansu Nangetu - Tv. Pirajá, 1194 - Belém/PA.
Transmissão pela webTV Azuelar http://www.ustream.tv/channel/azuelar


"Rei Congo e a Cabanagem" é uma conversa sobre a desconhecida história da tomada da cidade de Belém pelos negros trazidos para a Amazônia na condição de escravos, uma insurreição que instalou o reinado do 'Rei Congo' no Grão-Pará em outubro de 1823. A violenta reação dos colonizadores portugueses ao reinado do Congo culmina na chacina das lideranças negras daquela época na ação que ficou na história regional como o episódio da "Tragédia do brigue Palhaço".
Esses fatos históricos são pouco difundidos na atualidade, e a conversa se propõe a destacar o protagonismo do povo negro nas lutas sociais no Grão-Pará, território que hoje se traduz como a Amazônia brasileira, em especial sobre os fatos que resultam na Cabanagem em janeiro 1835.

João Lúcio Mazzini da Costa é historiador e arquivista.




O dia 18 de março foi dedicado aos umbandistas e aos afro-religiosos através da Lei Municipal nº 8272, de 14 de outubro de 2003 (autoria do vereador Ildo Terra) e da Lei Estadual nº 6.639, de 14 de abril de 2004 (autoria da deputada Araceli Lemos) e registra a luta de de dona Rosa Viveiros, Também conhecida como Nochê Navanakoly e como Mãe Doca, que era filha de santo do africano Manoel-Teu-Santo e seu Vodun era Nanã e Toi Jotin.
É Dona Rosa Viveiros, que em 1891 - apenas três anos após a abolição da escravatura - enfrentou o racismo e outros preconceitos da época e inaugurou seu Terreiro de Tambor de Mina na capital paraense.
Mãe Doca foi presa várias vezes porque cultuava as divindades e preservava a religiosidade afro-amazônica, e nem por isso desistiu de manter seu Templo Afro-religioso aberto. Mãe Doca se tornou o símbolo de resistência do Povo Tradicional de Matriz Africana no Pará, e é em sua homenagem que o dia 18 de março se tornou o dia da Umbanda e das religiões Afro-brasileiras.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Prefeitura de Belém será notificada pelo MPE por racismo religioso nas comemorações dos 400 anos.


Matéria originalmente publicada pela SDDH.

SDDH, CEDENPA, AFAIA e Instituto NANGETU protocolam representação contra a Prefeitura de Belém 

A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), a Associação dos Filhos de Amigos do Ilê Iya Omi Ase o Fa Kare (AFAIA), o Centro de Estudo e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA) e o Instituto Nangetu protocolaram em janeiro, no Ministério Público do Estado do Pará (MPE), uma representação contra a Prefeitura de Belém, em função das atitudes de intolerância religiosa, ocorridas no dia 12 de janeiro deste ano, durante as atividades comemorativas do aniversário da cidade. Hoje, uma representante do Ministério Público, reuniu com os advogados e representantes das instituições/associações e informou que vai notificar a prefeitura e investigar os fatos. Abaixo seguem trechos da representação, relatando os fatos ocorridos:

"No dia 12 de janeiro de 2016, quando oficialmente os poderes constituídos celebram 400 anos da cidade de Belém, o Movimento Atitude Afro Pará, organizou uma manifestação pacífica, intitulada "Belém sem racismo e sem intolerância religiosa, onde se buscava conseguir a atenção de nossas autoridades para a terrível perseguição racial e religiosa que se dá em nosso estado.

(...) A manifestação acima citada previa uma concentração às 9:00 hs na escadinha, próximo a Estação das Docas/CDP, e após uma caminhada até o Ver-o-peso, finalizando com um ritual na Pedra do Peixe. Diversas expressões do movimento afro-religioso, Pais e Mães de Santo estavam presentes, bem como o movimento negro, entidade de direitos humanos e a população em geral. Homens e Mulheres, Idosos e crianças, de uma forma pacífica conforme determina a constituição. Lamentavelmente, a Prefeitura Municipal de Belém através da Guarda Municipal, SEMOB e ainda a Polícia Militar do Estado, começaram desde cedo a tentar impedir a realização da caminhada, chegando ao ponto de proibir que o carro-som que foi contratado pelo movimento adentrasse na rua para acompanhar a caminhada.
Neste mesmo momento, percebeu-se a concentração de um grande número de pessoas, ligadas à uma religião evangélica acompanhada por carro som, e após, estas pessoas formaram uma espécie de corrente, ficando de mãos dadas do início da Estação das Docas (início da Presidente Vargas) até o Ver-o-peso, justamente ao longo do trajeto da caminhada. Após muita insistência, as forças de segurança permitiram que os afro-religiosos e simpatizantes (cerca de 500 pessoas) iniciassem a caminhada, mas estes tiveram que caminhar de forma paralela à corrente feita por estas pessoas uniformizadas, supostamente integrantes de uma religião evangélica, e que foram até aquele local levados pela Prefeitura de Belém. Ou seja, foi feito um cerco, uma espécie de corredor polonês à uma atividade religiosa, legal, que em nada ofendia ou prejudicava quem quer que seja.
Foi então que se viu uma dos mais tristes episódios de insensatez e intolerância religiosa que Belém já presenciou, pois ao invés de respeitar a caminhada dos afroreligiosos, o que se viu foram cenas de hostilidade, referências negativas e pejorativas às religiões afro, aos seus Sacerdotes e Sacerdotisas, a seus filhos, amigos e simpatizantes. Durante 1 (uma hora) de caminhada pessoas uniformizadas pela prefeitura, tentaram promover uma espécie de 'exorcismo absurdo'. Elas gritavam expressões como 'queima senhor', 'Adoradores do Diabo', etc..., estendiam as mãos sobre os participantes da caminhada como se tentassem expulsar supostos demônios, que nas suas mentes deturpadas, estariam na caminhada dos afro-religiosos. Mesmo com todas estas provocações, ofensas e violações às religiões presentes, nenhum membro da caminhada reagiu de forma violenta ou truculenta.
Contudo, ao final da caminhada, já no Ver-o-peso, mais uma cena triste ocorreu, quando o Prefeito Municipal Zenaldo Coutinho e um séquito de seguranças caminhou em sentido oposto à manifestação. Neste momento a segurança do Prefeito, sob seu olhar complacente, passou a empurrar e jogar spray de pimenta contra vários e várias participantes da caminhada, que era, repetimos absolutamente pacífica. Assim, em pleno aniversário de Belém, Sacerdotes e Sacerdotisas, cidadãos e cidadãs, foram ofendidos e tratados de forma truculenta por ações da Prefeitura e pelas pessoas levadas até aquela local com recursos públicos.
Estes fatos demonstram uma atitude preconceituosa, racista e intolerante praticada contra os segmentos afro-religiosos presentes no aniversário de Belém, que merece ser investigada pelo Ministério Público, afim de responsabilização dos autores de tais ofensas e violações, bem como para impedir que episódios semelhantes se repitam em nossa cidade. Entendemos que não existirem justificativas racionais ou mesmo religiosas para o preconceito e a intolerância, posto que todos somos humanos e partilhamos dos valores da defesa da vida e da fé. Representamos muito mais que uma comunidade, representamos a história e a cultura de um povo miscigenado, alegre e festivo; e continuaremos lutando para que todos, independente da cor ou do credo, tenham seus direitos garantidos".


Clique AQUI e leia na íntegra a representação.